A Floresta Amazônica registrou em 2024 o segundo ano consecutivo de queda no desmatamento, após cinco anos de recordes negativos de destruição. No entanto, a degradação — caracterizada pela remoção completa da vegetação, causada por fogo e extração de madeira — cresceu seis vezes na Amazônia no ano passado. O Pará lidera ambos os rankings.
De janeiro a dezembro, foram derrubados 3.739 km², o que representa uma redução de 7% em relação ao mesmo período de 2023, quando a devastação atingiu 4.030 km². Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do instituto de pesquisa Imazon, que monitora a região por meio de imagens de satélite desde 2008.
Já em relação 2022, quando a Amazônia teve 10.362 km² derrubados de janeiro a dezembro, a área desmatada em 2024 foi 65% menor. Apesar da queda significativa, o saldo de floresta perdida no ano passado representa mais de mil campos de futebol por dia.
Esse resultado foi conquistado após dezembro apresentar uma queda de 21% no desmate, depois de seis meses consecutivos de aumento. Foram derrubados 85 km² no último mês de 2024 e 108 km² no de 2023.
“Neste início de 2025, indicamos que os gestores aproveitem a época de chuvas, chamada de ‘inverno amazônico’, para organizar o fortalecimento das ações de proteção da Amazônia, já que a tendência é que o desmatamento retorne assim que as chuvas reduzem. Além de medidas de fiscalização e de punição aos desmatadores ilegais, é essencial destinar as terras públicas que ainda não possuem um uso definido para a conservação, medida de combate à grilagem”, afirma o pesquisador Carlos Souza, coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon.
Pará lidera desmate pelo 9º ano consecutivo
Campeão de desmatamento entre os estados em 2024, o Pará teve1.260 km² devastados. Essa área foi 3% maior do que a derrubada em 2023 em solo paraense, de 1.228 km². Com isso, o Pará manteve a liderança como o estado que mais desmatou a Amazônia pelo nono ano consecutivo, desde 2016. Em 2015, o topo do ranking ficou com Mato Grosso.
É no Pará que também ficam a terra indígena e a unidade de conservação mais devastadas no ano passado. O território originário Cachoeira Seca, localizado nos municípios de Altamira, Placas e Uruará, perdeu 14 km² de floresta em 2024, o que equivale a 1,4 mil campos de futebol. Essa área foi 56% maior do que a derrubada em 2023 na terra indígena, de 9 km².
Pará também tem a unidade de conservação mais destruída na Amazônia do ano passado: a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, localizada nos municípios de Altamira e São Félix do Xingu, com 51 km² desmatados. Apesar de ser 39% menor do que a área derrubada em 2023, de 83 km², a floresta perdida no ano passado dentro da APA equivale a mais de 5 mil campos de futebol.
Degradação aumenta seis vezes na Amazônia
Em 2024, na Amazônia, foram degradados 36.379 km², 497% a mais do que em 2023, quando foram atingidos 6.092 km².
No Pará foram 17.195 km² degradados. Isso foi 421% a mais do que em 2023. É em solo paraense que estão sete dos 10 municípios que mais degradam a Amazônia no ano passado: São Félix do Xingu (5.298 km²), Ourilândia do Norte (1.937 km²), Altamira (1.793 km²), Novo Progresso (1.593 km²), Cumaru do Norte (1.083 km²), Itaituba (857 km²) e Parauapebas (753 km²).
Além disso, também são paraenses a terra indígena e a unidade de conservação campeãs em degradação em 2024. O território Kayapó, com 4.928 km² degradados, e a APA Triunfo do Xingu, com 1.426 km².
A maior degradação em 15 anos
degradação de 2024 foi a maior dos últimos 15 anos, desde 2009, após o Imazon ter começado a monitorar esse dano florestal. Até então, o recorde negativo era de 2017, quando foram degradados 11.493 km². “Esse aumento expressivo na área degrada da Amazônia ocorreu por causa da alta nas queimadas, principalmente em agosto e setembro. Nesses dois meses, a degradação cresceu mais de 1.000%”, comenta Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.
Além disso, Carlos Souza reforça que 2024 foi um ano de seca extrema na região, o que gera estresse hídrico e aumenta a vulnerabilidade da floresta às queimadas. “Foram dois anos consecutivos de seca extrema na Amazônia, o que levou inclusive à ocorrência de queimadas em áreas úmidas da região. Esperamos que esse padrão não se torne o novo normal. As emissões de carbono da degradação florestal associada às queimadas de 2024 superaram as emissões do desmatamento”, alerta o cientista.
Assim como o desmatamento, a degradação também teve queda em dezembro depois de seis meses consecutivos de aumento. No último mês do ano, foram degradados 628 km², 40% a menos do que em 2023: 1.050 km². Apesar da queda, a área afetada pelo dano ambiental em dezembro do ano passado foi a segunda maior desde 2009.
Para o início de 2025, conforme Larissa, o esperado é que a degradação diminua. “Por causa do período de chuvas na Amazônia, as áreas de floresta afetadas tanto pelo desmatamento quanto pela degradação são historicamente menores nos primeiros meses do ano”, explica a pesquisadora.