O Pará deu um passo significativo para a cadeia produtiva da carne ao realizar o primeiro abate de animais identificados pelo Sistema de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará (SRBIPA). O marco, alcançado neste mês de agosto, segue o reconhecimento internacional de área livre de febre aftosa sem vacinação, conquistado em maio deste ano na França.
O lote inaugural, composto por 20 machos registrados, foi enviado de uma fazenda em Marabá para o frigorífico JBS/Friboi. Toda a movimentação, desde a saída da propriedade até o abate, foi acompanhada pela plataforma do SRBIPA, consolidando a rastreabilidade como um elemento efetivo da produção de carne no estado.
Lançado em 2023 durante a COP28 em Dubai, o Programa de Pecuária Sustentável e Rastreabilidade Individual de Bovinos é uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Adepará, Semas e Seaf, em parceria com o setor produtivo. A meta é audaciosa: identificar individualmente todos os bovinos e bubalinos em trânsito a partir de janeiro de 2026 e a totalidade do rebanho paraense a partir de janeiro de 2027.
O processo de identificação, chamado de “brincagem”, consiste na aplicação de dois brincos por animal: um visual (amarelo) e um eletrônico com tecnologia de radiofrequência (RFID), que funciona sem internet.
A médica veterinária Barbra Lopes, gerente da Adepará, explica que a rastreabilidade dá a cada animal “um número único que funciona como um ‘CPF'”.
“Esse controle trará mais agilidade e precisão no enfrentamento de doenças, fortalecendo a defesa pecuária e contribuindo para uma gestão mais eficiente”, disse
O diretor-geral da Adepará, Jamir Macedo, reforça que o sistema “coloca a produção do estado em outro nível de organização e qualidade”, sendo decisivo para manter o status de zona livre de febre aftosa sem vacinação.
Para a gestão das informações, a saída da propriedade é confirmada no Sistema de Gestão Agropecuária (SIGEAGRO 2.0) com o número de cada animal na Guia de Trânsito Animal (GTA). No frigorífico, leitores eletrônicos registram os abates, garantindo transparência e confiabilidade em toda a cadeia.
Benefício para o produtor
Os produtores com até 100 animais recebem os brincos gratuitamente do Governo do Pará. Em municípios com alta atividade pecuária, como Altamira e Xinguara, a Adepará conta com o auxílio da The Nature Conservancy (TNC) para a identificação dos animais.

No arquipélago do Marajó, o produtor Joélcio Fernandes, de Salvaterra, já incorporou a tecnologia ao manejo de búfalos. Em sua propriedade de 138 hectares, mantém 53 animais e dedica 50 hectares à preservação ambiental, exemplo de equilíbrio entre produção e conservação.
“A chegada do sistema aqui na região é muito importante para nós que já utilizamos os brincos para sinalizar os nossos animais. O sistema informa peso, vacinas e todo o controle sanitário do animal. É um benefício para identificar a qualidade, a origem e o destino de cada animal”, avalia.
Acesso a mercados mais exigentes
Além da segurança sanitária e da identificação dos animais, o Programa de Pecuária Sustentável e Rastreabilidade Individual de Bovinos garante acesso de produtores rurais paraenses a mercados mais exigentes, promovendo geração de emprego, renda e sustento das famílias no meio rural, por meio da Requalificação Comercial, prevista no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da Carne.
A política, firmada pelo Governo do Pará com várias instituições, incluindo o Ministério Público Federal, viabiliza o retorno de produtores com áreas embargadas mediante compromisso de recuperação ambiental.
“Nós temos clareza de que é necessário garantir acesso de produtores a mercados sem deixar ninguém para trás. Continuamos atendendo à determinação do governador Helder Barbalho de avançar em uma agenda de desenvolvimento sustentável com inclusão social. A rastreabilidade é um passo decisivo para que a pecuária paraense alcance mercados mais exigentes e fortaleça a inclusão produtiva”, destaca o secretário de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade do Pará, Raul Protázio Romão.
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