O Brasil conseguiu reduzir pela primeira vez, desde 2019, o desmatamento em todos os biomas, com exceção da Mata Atlâtnica. A nova edição do Relatório Anual do Desmatamento (RAD), elaborada pelo MapBiomas sobre dados de 2024 e divulgada nesta quinta-feira, 15, mostra que a área total desmatada no País recuou 32,4% em relação a 2023. No total, foram 1.242.079 hectares devastados, sendo 377.708 hectares na Amazônia, onde a queda foi de 16,8% em comparação com o ano anterior.
Este é o segundo ano consecutivo de redução no desmatamento: em 2023, a retração havia sido de mais de 11% em comparação com 2022.
O levantamento indica que o Pará é o estado com maior área desmatada no acumulado de 2019 a 2024, com quase 2 milhões de hectares desmatados. Porém, nos últimos dois anos, os índices baixaram de 487.421 hectares em 2022 para 184.673 hectares em 2023 e 156.990 hectares no ano passado. Em 2024, a queda foi de 15%.
“Nesses dois últimos anos foram construídos planos de prevenção e combate ao desmatamento para todos os biomas, coisa que a gente tinha antes basicamente na Amazônia; outra questão é que aumentou a participação dos estados em termos de ações de embargos e autuações, somando também os embargos e autuações feitos pelo Ibama. E o terceiro aspecto é a questão do crédito rural, houve um aumento do uso dessa informação do desmatamento antecipando a autorização do crédito rural”, avalia Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, sobre as possíveis causas da queda do desmatamento no país.
Na Amazônia, a área desmatada (377.708 hectares) foi a menor dos seis anos da série histórica do RAD, iniciada em 2019. Com isso, a maioria dos estados apresentou queda no desmatamento, com exceção do Acre, com alta de 31%, e Roraima, com alta de 8%. Entre os biomas, a Amazônia ficou em segundo lugar na quantidade de área desmatada, atrás do Cerrado, que registrou devastação em 652.197 hectares.
Apesar do recuo, o ritmo de perda de vegetação nativa segue alto na Amazônia, onde foram derrubadas cerca de sete árvores por segundo em 2024.
De acordo com o estudo, a abertura de áreas para a agropecuária foi a principal responsável pela perda de vegetação nativa no Brasil, sendo determinante em 97% dos casos de desmatamento. A análise mostra ainda que outra causas têm peso distinto de acordo com o bioma. No caso do garimpo, por exemplo, 99% de toda área desmatada por essa atividade está localizada na Amazônia.
Áreas críticas
De acordo com o MapBiomas, no ano passado, dois terços das Terras Indígenas não tiveram nenhum caso de desmatamento. Outro dado importante foi a redução da perda de vegetação nativa em unidades de conservação. Em 2024, foram 57.930 hectares desmatados em UCs, o que representa uma queda de 42,5% em relação ao ano anterior. Mas o problema ainda é sério em locais como a APA Triunfo do Xingu que teve 6.413 hectares desmatados.
“Apesar do bioma Amazônia ter sido o segundo que mais desmatou e ter tido redução em áreas protegidas, unidades de conservação e terras indígenas, a APA Triunfo do Xingu foi a unidade de conservação mais desmatada mesmo assim. É uma unidade de conservação que está sob intensa pressão, entre os municípios de Altamira e São Félix do Xingu, é uma região bem crítica”, aponta Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.
No Pará, outro destaque negativo fica por conta de Portel. Localizada no arquipélago do Marajó, a cidade aparece em nono lugar na lista dos dez municípios que mais desmataram no ano passado. Portel, onde há uma forte presença da exploração registrou uma área desmatada de 10.928 hectares em 2024, 42,5% a mais do que os 7.670 hectares devastados em 2023.
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