O mundo passa por um processo de aquecimento acelerado e põe em maior risco as gerações nascidas após 2020. Um estudo publicado na revista Nature revela que, se a temperatura do planeta subir acima 1,5ºC, as crianças da atualidade vão enfrentar mais ondas de calor e outros eventos extremos ao longo da vida. As informações são da Folha de São Paulo.
A pesquisa combinou projeções sobre o clima, dados demográficos e outras informações para calcular a chamada “exposição vitalícia sem precedentes” a eventos climáticos extremos. Para receber essa classificação, o evento deve ter chance inferior a 1 em 10 mil de acontecer em um mundo sem mudanças climáticas. Ou seja, casos desse tipo deveriam ser raros, mas podem ocorrer com maior frequência com as atuais alterações na temperatura.
De acordo com a análise, o cenário atual indica que o planeta deve aquecer 2,7°C até o final do século e expor 83% dos nascidos em 2020 a eventos sem precedentes de ondas de calor no futuro. Em um cenário pior, caso o aquecimento seja de 3,5°C até 2100, a quantidade de afetados chega a 92% dos nascidos em 2020.
Isso significa que as populações mais jovens têm maior risco de serem expostas a fenômenos sem precedentes ao longo da vida. Segundo o estudo, isso ocorre desde a geração dos nascidos após 1980, que já enfrentam principalmente mais ondas de calor do que no passado. Porém, a análise inclui outros cinco eventos comuns: quebras de safra, incêndios florestais, secas, enchentes fluviais e ciclones tropicais.
“O mesmo padrão [das ondas de calor] se aplica a outros extremos climáticos analisados, embora com proporções um pouco menores. Ainda assim, observam-se as mesmas diferenças geracionais injustas na exposição sem precedentes”, explicou Luke Grant, autor principal do artigo e cientista climático da Universidade Livre de Bruxelas (VUB).
O trabalho reforça também a importância do Acordo de Paris. Se a meta preferencial de aumento de 1,5ºC for cumprida, 52% das pessoas nascidas em 2020 terão uma exposição sem precedentes a ondas de calor. Se forem considerados todos os jovens que hoje têm de 5 a 18 anos, aproximadamente 1,5 bilhão seriam afetados em um cenário de aquecimento de 3,5°C. Mas com a meta do Acordo de Paris, 654 milhões deles estarão mais protegidos do calor extremo.
“Com as emissões globais ainda em alta e o planeta a apenas 0,2°C do limite de 1,5°C, os líderes mundiais precisam agir agora para reduzir as emissões e aliviar o fardo climático sobre os jovens de hoje”, acrescenta o pesquisador Wim Thiery, que reforça a necessidade de medidas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.