Um novo estudo acende um sinal de alerta para a Amazônia: em 2023, aproximadamente 150 mil hectares de florestas em recuperação foram consumidos pelo fogo. A preocupação é ainda maior ao se constatar que 130 mil hectares (88%) dessas áreas queimadas estavam nos primeiros 20 anos de regeneração. Esse período é crucial, pois é quando essas florestas atuam como “esponjas” de carbono, retirando uma quantidade significativa de gás carbônico da atmosfera e ajudando a frear as mudanças climáticas.
Os dados foram divulgados em um estudo na revista científica Environmental Research Letters, contando com a participação do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). A pesquisa aponta que mais da metade dessas áreas afetadas pelo fogo – 82 mil hectares (55%) – tinham entre 1 e 6 anos de recuperação, ou seja, estavam em seu estágio mais vulnerável e, paradoxalmente, mais ativo na absorção de carbono.
O que são florestas em recuperação
Para entender a gravidade do problema, é preciso saber que:
- Florestas em recuperação, também chamadas de florestas secundárias, são áreas que foram desmatadas no passado (por exemplo, para agricultura ou pecuária) e que, após o abandono, começaram a crescer novamente por conta própria.
- Sua importância é imensa: nos primeiros 20 anos de sua “nova vida”, essas florestas conseguem retirar 11 vezes mais carbono da atmosfera do que as florestas primárias (aquelas que nunca foram desmatadas e mantêm sua estrutura original). Elas agem como um “aspirador de pó” natural, limpando o ar.
“Florestas secundárias desempenham um papel vital na mitigação das mudanças climáticas, removendo carbono da atmosfera”, explica Celso H. L. Silva Junior, pesquisador do IPAM e um dos autores do estudo. No entanto, ele alerta: “Mesmo com essa função crucial, a vegetação secundária não possui proteção em nível federal, nem mesmo pelo Código Florestal.”
Silva Junior reforça que florestas em estágio inicial de regeneração são mais frágeis e suscetíveis ao fogo e outros distúrbios, necessitando de proteção equivalente à das florestas primárias. É fundamental, porém, entender que florestas primárias não devem ser substituídas por secundárias, pois o desmatamento inicial libera grandes volumes de gás carbônico que levariam muitos anos para serem reabsorvidos por uma nova floresta em crescimento.
O problema
O dióxido de carbono, ou CO2, é um gás naturalmente presente na atmosfera e é essencial para a vida na Terra. Ele faz parte do que chamamos de efeito estufa natural, que funciona como um cobertor, mantendo o planeta aquecido o suficiente para que a vida exista.
No entanto, desde a Revolução Industrial, atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural), o desmatamento e certas práticas agrícolas liberam quantidades enormes de CO2 na atmosfera.
Essa liberação excessiva está desequilibrando o efeito estufa natural, tornando o “cobertor” mais espesso. Isso faz com que mais calor fique retido na Terra, levando ao aquecimento global.
A solução
É aqui que a absorção de carbono se torna vital. Ela se refere à capacidade de “remover” o CO2 da atmosfera e armazená-lo em diferentes locais. Os principais “aspiradores de carbono” do planeta são:
- Florestas e vegetação: As plantas, através da fotossíntese, absorvem CO2 do ar para crescer. Elas transformam esse gás em matéria orgânica (troncos, folhas, raízes) e liberam oxigênio. Quanto mais florestas e vegetação saudáveis, mais carbono pode ser removido da atmosfera. É por isso que reflorestar e proteger áreas verdes é tão importante.
- Oceanos: Os oceanos absorvem uma quantidade gigantesca de CO2 da atmosfera. Uma parte se dissolve na água, e outra é utilizada por organismos marinhos (como plânctons e corais) para construir suas conchas e esqueletos.
- Solos: O solo, especialmente solos ricos em matéria orgânica, também tem uma grande capacidade de armazenar carbono. Práticas agrícolas sustentáveis podem aumentar essa capacidade.