O futuro da pecuária brasileira ganhou novos contornos na última quarta-feira (22), durante o Diálogos Boi na Linha, realizado em Brasília. O encontro, que reuniu representantes da agricultura, pecuária, sociedade civil e poder público, colocou em pauta a integração do sistema rural nacional e o desafio de garantir a rastreabilidade socioambiental do gado brasileiro diante das novas exigências do mercado internacional.
Entre os destaques do evento, o Pará se consolidou como referência ao lançar o Manual do Programa de Requalificação Comercial do Produtor Rural, iniciativa voltada à recuperação de produtores impedidos de negociar com frigoríficos, devido a embargos ambientais ou irregularidades relacionadas ao desmatamento ilegal.
O programa foi apresentado pela diretora de Mudanças Climáticas da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará, Indara Roumié, que reforçou o papel estratégico do estado no avanço da pecuária sustentável.
O novo manual integra as ações de apoio ao Sistema de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará (SRBIPA), iniciativa que já realizou a primeira exportação em outubro de 2025. Em entrevista ao Pará Terra Boa, Indara destacou uma das maiores motivações para a criação do manual e a decisão de fazer o lançamento dentro do Diálogos Boi na Linha.
“Nosso objetivo é garantir segurança jurídica, valorização da produção e agilidade na regularização ambiental. Queremos que cada produtor, independentemente do seu grau de conhecimento técnico, tenha acesso a informações confiáveis e saiba exatamente o que fazer para se requalificar”, explicou a secretária.
A iniciativa, desenvolvida em parceria com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) , pretende fortalecer o diálogo com o setor produtivo e esclarecer, de forma acessível, os procedimentos para adequação às exigências do TAC da Carne Legal – acordo firmado entre o Ministério Público Federal (MPF) e frigoríficos que atuam na Amazônia Legal.
A necessidade de disseminar informações seguras ao meio rural foi reforçada por Justiniano Netto, ex-secretário de Estado do Programa Municípios Verdes, que, em 2010, retirou o município de Paragominas da lista dos maiores desmatadores da Amazônia. Ele alertou para os riscos de soluções informais e fraudulentas oferecidas aos produtores.
“É comum vermos pessoas prometendo a retirada de embargos do PRODES, mas, na prática, o que fazem é manipular o CAR do produtor, aprofundando ainda mais sua ilegalidade. Muitos caem por desespero e falta de informação”, afirmou Justiniano.
Ele aponta que a ideia da criação do manual é fundamental para dar orientações corretas e atualizadas a todo tipo de produtor,
“Por mais que a gente tente, não dá pra saber 100% o que eles estão passando lá nas suas propriedades, então, falar diretamente com eles, da forma mais simples possível, e ao mesmo tempo dando as informações certas, é fundamental”, frisa.
Representando o MPF, Ricardo Negrini, destacou o protagonismo do Pará na criação de um modelo de rastreabilidade socioambiental que pode inspirar outros estados brasileiros. Para ele, a integração das iniciativas estaduais é essencial para consolidar o Brasil em posição de destaque na produção sustentável.
“Já há consenso de que a conformidade ambiental é um caminho, sem volta, para garantir acesso aos mercados internacionais e manter a competitividade do setor pecuário, não dá para negar isso. Se não fosse verdade, ninguém estaria tão preocupado em criar soluções para implementar a rastreabilidade no setor”, aponta Ricardo.
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