O governo federal se comprometeu a realizar uma consulta aos povos do Rio Tapajós a respeito do projeto de hidrovia na região. O anúncio foi feito pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, durante o encerramento da Cúpula dos Povos neste domingo,16.
A Cúpula dos Povos reuniu, durante a semana, cerca de 70 mil pessoas, incluindo movimentos sociais locais, nacionais e internacionais, povos originários e tradicionais, camponeses, quilombolas, pescadores, trabalhadores e ativistas de diversas frentes.
Boulos afirmou que o governo realizará uma “consulta livre, prévia e informada a todos os povos da região, antes de implementar qualquer projeto no rio”. Ele também garantiu que a Secretaria-Geral da Presidência da República criará uma mesa de diálogo para receber esses povos em Brasília e “construir a solução.”
O ministro relatou ter conversado por telefone sobre o tema com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da
O anúncio do governo federal acontece após um protesto do povo Munduruku, realizado na manhã de sexta-feira. A manifestação bloqueou pacificamente a entrada da Zona Azul, área restrita das negociações da COP30.
Apoiados por ativistas e povos indígenas de outros países, os Munduruku reivindicavam uma reunião com o presidente Lula e a revogação do Decreto nº 12.600/2025, que prevê a privatização de empreendimentos públicos federais do setor hidroviário nos rios Madeira, Tocantins e Tapajós.
Os indígenas também criticam a construção da Ferrogrão, uma ferrovia projetada para escoar a produção agrícola de Mato Grosso ao Pará, que pode gerar impactos em seu modo de vida e pressionar suas terras. Após o protesto, eles foram recebidos pelo presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago.
Presidente da COP30
Também no encerramento do evento, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, afirmou que levará as reivindicações da Cúpula dos Povos para as reuniões de alto nível da COP que serão realizadas na próxima semana.
Ele recebeu do comitê político da Cúpula dos Povos a Carta Final, um documento que reúne as sugestões dosparticipantes e a cobrança por maior protagonismo popular nos debates sobre a emergência climática.
Corrêa do Lago reconheceu a complexidade das negociações, mas ressaltou a importância da participação social em Belém.
“Vocês sabem que isso [a COP] é basicamente uma grande negociação dentro das Nações unidas, com 195 países que têm que estar de acordo com tudo, porque é tudo por consenso. Então, é uma negociação superdifícil. Mas saber que a sociedade civil mundial tem voz em Belém é absolutamente sensacional,” disse.
Ele agradeceu o trabalho e garantiu: “Eu registrarei [o trabalho] na abertura da reunião de alto nível, que começa amanhã, na COP. Fico muito, muito feliz de poder presidir essa COP com esse apoio que eu estou sentindo aqui hoje,” acrescentou.
O embaixador também recebeu a Carta da cúpula das infâncias, um documento elaborado por cerca de 700 crianças e adolescentes. O texto expressa o temor pelo futuro caso não haja ações práticas para conter a crise climática.
“Para que as próximas crianças e adolescentes não tenham medo do calor, da fumaça, da falta de água, da extinção dos animais. Para que elas possam desenhar florestas vivas e não florestas morrendo,” diz um trecho da carta.
Banquetaço
Além dos discursose da entrega das cartas, a Cúpula dos Povos encerrou suas atividades com um Banquetaço, realizado na Praça da República, em Belém. Pelo direito humano à alimentação adequada e à “comida de verdade”, o evento reuniu cozinhas coletivas e distribuiu alimentos agroecológicos produzidos sem agrotóxicos, por meio da ecoagronomia.


