A menos de cinco meses da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em novembro de 2025, em Belém, um grupo de organizações da sociedade civil, centros de pesquisa e lideranças locais e internacionais lançaram a Carta Amazônia, documento que propõe um roteiro de ações para ampliar o financiamento internacional voltado à preservação das florestas tropicais, com ênfase na Amazônia.
O documento, entregue nesta sexta-feira, 4, à secretária nacional de Mudança do Clima Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Ana Toni, defende que o Brasil, na presidência da COP30, assuma um papel de liderança na mobilização de recursos públicos e privados para soluções baseadas na natureza.
A proposta inclui a criação do Tropical Forest Forever Facility (TFFF), fundo global que pretende captar US$ 125 bilhões até 2030 para a conservação das principais florestas tropicais do planeta, entre elas a Amazônia, a Bacia do Congo e as florestas do Sudeste Asiático.
“A COP30 será um ponto de virada no debate de financiamento para a natureza. Financiamento para conservação, restauração e gestão sustentável de florestas tropicais é essencial para o combater à mudança do clima. Soluções financeiras inovadoras, como a proposta brasileira para o mecanismo Florestas Tropicais para Sempre, são prioridades para a presidência da CO30 em nosso mutirão global para acelerar a ação climática”, ressalta Ana Toni, diretora executiva da COP30.
O documento, que tem como título “Ampliando o Grande Financiamento para Soluções Baseadas na Natureza para Proteger a Amazônia: Um Roteiro de Ação”, alerta que a Amazônia está próxima de um ponto de inflexão – momento em que a floresta não consegue mais se auto-recuperar. Estudos indicam que a perda de apenas mais 5% da floresta pode comprometer sua capacidade de regeneração, transformando-a em uma savana degradada. As consequências seriam globais: liberação em massa de carbono, desequilíbrio no regime de chuvas e colapso na biodiversidade.
Com cerca de 47 milhões de habitantes e mais de 400 povos indígenas, a Amazônia abriga 13% da biodiversidade terrestre conhecida e estoca até 200 bilhões de toneladas de carbono. Seu papel na regulação climática, na produção de chuvas e na estabilidade das economias regionais é considerado estratégico para o futuro do planeta. Ainda assim, o financiamento para sua proteção permanece abaixo do necessário.
Segundo o Banco Mundial, são exigidos US$ 7 bilhões anuais para preservar o bioma, mas entre 2013 e 2022, os aportes não passaram de US$ 581 milhões por ano, em média.
“Direcionar recursos financeiros substanciais e imediatos para a preservação da Amazônia precisa ser reconhecido como uma estratégia climática urgente para evitarmos as piores consequências do aquecimento global”, destaca Rachel Biderman, Vice-presidente Sênior para as Américas da Conservação Internacional, uma das organizações responsáveis pela elaboração das recomendações. “A conservação da Amazônia deve ser um dos grandes resultados da COP30. A solução está ao alcance da presidência brasileira da COP30 e pode começar a ser implementada na conferência de Belém”, complementa.
A carta destaca ainda a importância de medidas como reorientação de subsídios e incentivos financeiros que atualmente impulsionam o desmatamento e outras atividades predatórias na região. O objetivo é desviar esses recursos para iniciativas que promovam a sustentabilidade. Além disso, os autores defendem a rastreabilidade nas grandes cadeias de suprimentos, especialmente aquelas operando em áreas de alto desmatamento. Isso significa que empresas precisarão comprovar a origem de seus produtos, garantindo que não estejam ligadas à destruição da floresta.
As organizações signatárias da carta também defendem que a meta global de US$ 1,3 trilhão em financiamento climático anual, no âmbito do Acordo de Paris, inclua compromissos específicos para a proteção da Amazônia. A expectativa é que a COP30, a primeira conferência do clima realizada em uma floresta tropical, represente um marco histórico para reposicionar o bioma amazônico no centro das decisões globais sobre o clima, assegurando que os recursos sejam direcionados a iniciativas que preservam a floresta e fortalecem as comunidades que vivem e cuidam dela.
“A primeira COP do clima a ser realizada na maior floresta tropical do mundo deve assumir compromissos concretos de apoio financeiro e político para que a Amazônia e as demais florestas tropicais do planeta continuem a armazenar e capturar carbono com segurança. É fundamental fortalecer os guardiões da floresta — os povos indígenas e as comunidades locais — não apenas pelo futuro deles, mas por toda a vida na Terra. A Rainforest Trust tem orgulho de ajudar a mobilizar financiamento filantrópico privado para esses esforços — agora o setor público deve fazer sua parte, especialmente os países mais ricos”, destaca James Deustch, CEO da Rainforest Trust.
O chamado conta com o apoio das organizações Andes Amazon Fund, Science Panel for the Amazon (SPA), Conservation International (CI), The Field Museum, IPAM, Uma Concertação pela Amazônia e do Rainforest Trust.