A impressão de quem mora em Belém é que os dias estão cada vez mais quentes, mas isso não é só uma percepção e sim uma realidade em grande parte da cidade que irá receber a COP30 em novembro deste ano. Uma análise do InfoAmazônia com base em dados de satélite comprova que a diferença de temperatura entre as áreas urbanas da capital paraense e a região da Ilha do Combu, por exemplo, pode chegar a 5ºC, em média.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Belém é a sexta capital menos arborizada do País. Os dados do satélite Landsat 8 indicam que a cobertura vegetal cobre 39,6% da cidade, o que contribui diretamente para a formação de ilhas de calor. A situação piora ainda mais devido a outros fatores comuns nas cidades, como as estruturas de concreto e asfalto que absorvem mais calor ao longo do dia, o trânsito intenso, os edifícios altos que dificultam a circulação do ar e a poluição atmosférica que cria um efeito estufa local e impede o escape do ar quente.
O problema é semelhante na outra metrópole amazônica: Manaus. Na capital amazonense, o InfoAmazônia detectou que a cobertura vegetal alcança 41,7% do território. No comparativo com a Reserva Florestal Adolpho Ducke, as áreas urbanas têm temperaturas 3ºC mais quentes, mas a diferença chega a 5ºC em algumas partes.
Sem árvores nas ruas, os amazônidas perdem não só a sombra, mas também os benefícios da evapotranspiração que ajuda a resfriar o ambiente. Especialistas defendem que uma cidade mais arborizada consegue mitigar ou até eliminar as ilhas de calor e diminuir os efeitos do aquecimento global.
“Na periferia, quase não tem [árvores]. Só no Centro. Belém é conhecida como a cidade da mangueira. Mas é só no Centro”, contou o vendedor de frutas Raimundo Rodrigo do Vale.
Ele trabalha no bairro da Cidade Velha onde a cobertura vegetal é de apenas 19,9%. Segundo a reportagem, a situação é ainda pior em bairros periféricos, como é o caso da Sacramenta, que é o terceiro mais quente da cidade. No local, as temperaturas são cerca de 5,5 ºC mais altas do que na Ilha do Combu, mas há pontos em que a diferença chega a 8,6ºC.
Ana Luíza de Araújo, integrante do grupo Defensores dos Rios Urbanos, explica que esse problema é intensificado pelo chamado “deserto florístico”
“Ao construírem suas casas, as pessoas acabam desmatando, derrubando árvores para poder construir suas moradias. Mas isso também é resultado da falta de planejamento do poder público… As obras previstas para a periferia seguem muito a lógica da infraestrutura cinza, baseada em concreto e asfalto”, crítica Ana Luiza, moradora do bairro da Terra Firme, o quarto mais quente da cidade.
Em nota, a Prefeitura de Belém reconheceu o problema afirmando que a principal dificuldade é a identificação de locais para plantio devido à ocupação desordenada dos bairros. Para enfrentar o desafio das ilhas de calor, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente diz que já plantou 7 mil árvores desde o início do ano e que a atual gestão reativou a Granja Modelo para a produção de mudas nativas que serão utilizadas na arborização urbana.