Conhecidas como tecnologias poupa-terra, soluções como o plantio direto, o uso de bioinsumos e os sistemas integrados, evitaram a abertura de 71 milhões de hectares para a produção de soja no Brasil nas últimas seis décadas. Esse modelo tornou-se uma das principais respostas do País para a crise climática, já que evita emissões associadas ao desmatamento e garante uso eficiente da terra.
O relatório “Soluções em Clima e Natureza do Brasil”, divulgado nesta terça-feira, 17/6, mostra como o agro brasileiro já atua e como pode ampliar sua contribuição na descarbonização da economia, especialmente com o engajamento do setor privado. O mapeamento é do Instituto Arapyaú e do Instituto Itaúsa e foi baseado nas análises de 66 especialistas.
A lógica das estratégias poupa-terra é simples: aumentar a produção sem avançar sobre novas áreas. E, segundo o relatório, o setor privado brasileiro já está engajado nessa transição. É o caso do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que lançou para a safra 2025/26 um pacote que envolve melhoramento genético e biotecnologia, que pode movimentar R$ 60 bilhões nos próximos 15 anos.
“O Brasil tem todas as condições para ser parte da liderança de uma nova economia regenerativa, inclusiva, de baixo carbono e orientada para o futuro. E o setor privado está preparado para responder aos desafios climáticos, com produtos, investimento e serviços já implementados”, afirma Renata Piazzon, diretora-executiva do Instituto Arapyaú.
Diante disso, o Brasil pode se apresentar como um grande provedor de soluções climáticas na COP 30, que será realizada em Belém, em novembro. Isso porque o País reúne condições únicas para liderar uma nova economia de baixo carbono, não apenas por sua biodiversidade e matriz energética limpa, mas também por estas práticas agrícolas já consolidadas e em expansão.
Plantio Direto
No centro dessa transformação está o plantio direto, que hoje responde por 95% da produção agrícola brasileira, liderando a aplicação mundial à frente de países como Estados Unidos e Argentina. Implantada inicialmente nos anos 1970, a técnica substitui a aragem tradicional, reduzindo a emissão de carbono do solo, melhorando a retenção de água e aumentando a matéria orgânica.
O sistema também permite o plantio sucessivo de culturas na mesma área, o que explica o desempenho brasileiro no indicador de frequência de uso do solo, 30% superior à média global, segundo dados da FAO citados no relatório.
Biodiversidade a serviço da produtividade
Outro pilar das tecnologias poupa-terra é o uso crescente de bioinsumos. Com base na biodiversidade tropical, o Brasil lidera globalmente tanto no uso de biofertilizantes quanto de defensivos biológicos e, movimenta R$ 5 bilhões por ano, com um crescimento de 148% na aplicação em apenas um ano, segundo o Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCarbon).
Atualmente, são mais de 600 produtos registrados. Além de reduzir a dependência de fertilizantes importados, eles minimizam emissões de óxido nitroso, gás de efeito estufa com potencial de aquecimento quase 300 vezes maior que o CO2.
Intensificação com conservação
O relatório também cita os sistemas integrados, como a integração lavoura-pecuária (ILP) e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), como estratégia para permitir a produção simultânea de grãos, carne e madeira na mesma área. Conforme dados da Rede ILPF, o Brasil já soma entre 15 milhões e 17,4 milhões de hectares com esses sistemas, que sequestram cerca de 30 milhões de toneladas de carbono por ano.
Próximo passo é monetizar os serviços ambientais
Agora, de acordo com os especialistas, o próximo passo é melhorar os instrumentos de financiamento, permitindo que os produtores que investem nessas tecnologias sejam reconhecidos e remunerados pelos serviços ambientais que geram, como a captura de carbono e a proteção da biodiversidade. Programas como o RenovAgro, reformulado pelo governo federal, começam a abrir espaço para isso.
“Quando o mundo busca com urgência referências para enfrentar a crise climática, o Brasil pode demonstrar ser um grande provedor de soluções. Por isso, estamos apoiando esta iniciativa para identificar e compartilhar exemplos escaláveis de soluções climáticas”, avalia Marcelo Furtado, diretor executivo do Instituto Itaúsa.
Fonte: Gigante 163
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