Por Ana Vitória Gouvêa
Em Paragominas, no sudeste do Pará, diversas comunidades agrícolas estão promovendo uma revolução no campo: a substituição da técnica de corte e queima pela “Roça sem Fogo”, uma prática de manejo sustentável do solo. A iniciativa faz parte do projeto Sustenta e Inova, executado pelo Sebrae no Pará, com financiamento da União Europeia e parceria de instituições como Embrapa, IPAM e Cirad.
Entre as beneficiárias está Jaqueline Lima, agricultora de 35 anos, que cultiva espécies tradicionais da Amazônia paraense. Ela relata que, por muitos anos, sua família utilizava o fogo para preparar a terra, mas essa prática prejudicava tanto a qualidade do solo quanto a produtividade das plantações.
Quase um ano após aderir ao programa, Jaqueline já percebe mudanças significativas.
“Mesmo ainda no início da transição, vejo que a roça sem fogo evita a perda de água e protege as florestas ao redor. Isso dá mais segurança para o futuro da nossa produção”, comenta.
Uma das técnicas adotadas é o uso da biomassa resultante do corte da vegetação secundária para fertilizar o solo. Além de reduzir o uso do fogo, o projeto fortalece cadeias produtivas como mel, piscicultura, fruticultura e leite, inserindo produtos em mercados formais e gerando renda para comunidades rurais e indígenas.

Segundo dados do Sebrae/PA, em dois anos de capacitações, cerca de 200 produtores agrícolas foram atendidos pelo Roça sem Fogo. O projeto também abriu espaço para o cultivo de novas espécies e possibilitou um aumento de quase 400% na produção de mandioca e outros grãos. A ideia é fortalecer a organização comunitária e fomentar a produção sustentável nos territórios agrícolas.
Para Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae/PA, a experiência mostra que é possível conciliar produtividade e preservação.
“O grande papel do Sebrae é mostrar que é possível ter retorno financeiro e responsabilidade socioambiental. Negócios de impacto estão sendo estruturados para resolver demandas sociais e ambientais do território. Em ano de COP 30 em Belém, nossa contribuição é apresentar soluções que beneficiam pequenos produtores e também o clima”, afirma.