O Brasil registrou um crescimento expressivo na recuperação de vegetação nativa, atingindo 204,2 mil hectares em processo de restauração, uma área equivalente a 285 mil campos de futebol. Os números, divulgados pelo Observatório da Restauração (OR) – uma das principais plataformas de dados do País, mantida pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura –, representam um aumento notável de 158% em relação a 2021 (quando foram mapeados 79 mil hectares) e 33% ante o ano passado. E isso atinge seus seis biomas — principalmente na Amazônia e Mata Atlântica .
A nova edição do Observatório também aponta uma mudança relevante: pela primeira vez, a Amazônia ultrapassou o Cerrado e passou a ocupar o segundo lugar em área restaurada, com aproximadamente 40 mil hectares.
A restauração da vegetação nativa é fundamental para a saúde, segurança hídrica e desenvolvimento sustentável do País. Em sua contribuição ao Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares até 2030, meta reforçada em 2024 pelo Planaveg (Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa). Estima-se que esta atividade pode gerar mais de 2,5 milhões de empregos diretos.
“O Observatório é uma ferramenta essencial não somente pela contabilização de hectares em si, mas pela articulação e visibilidade aos atores que fazem a restauração acontecer”, explica Tainah Godoy,secretária-executiva do OR.
O OR se destaca pela articulação com coletivos que atuam nos seis biomas brasileiros e pela metodologia específica que mapeia apenas projetos autodeclaratórios com intervenção planejada (restauração ativa).
Isso o diferencia de outros indicadores, como os do MMA (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima), que incluem extensas áreas de regeneração natural (vegetação que avança espontaneamente).
Segundo o OR, os biomas mais beneficiados com projetos de restauração são a Mata Atlântica (com 131,2 mil hectares mapeados, o equivalente a 64% da área total monitorada) e a Amazônia (39,7 mil hectares, ou 19%). No Cerrado, foram identificados 31,7 mil hectares em restauração (15% do território mapeado). Na Caatinga foram compilados mil hectares (0,06%), enquanto o Pantanal soma 280 hectares (0,01%) e o Pampa, 260 hectares (0,01%).
“A Mata Atlântica, Amazônia e Cerrado possuem redes multissetoriais pela restauração, consolidadas há anos, que impulsionam a recuperação de seus biomas. Isso contribui para o engajamento da sociedade, o desenvolvimento de pesquisas e a formação de mão de obra qualificada para a atividade”, ressalta Godoy.
A Amazônia, segundo o OR, teve um avanço considerável de reporte de áreas em processo de restauração em relação aos dados de 2021, passando de 14,5 mil para 40 mil hectares, um aumento de 173% em quatro anos.
“Esse aumento pode ser atribuído a diversos fatores, destacando o papel de políticas públicas e iniciativas privadas”, explica Tainah . “Vemos, nos últimos anos, o aumento da oferta por editais voltados à restauração de ecossistemas, além de ações envolvendo organizações da sociedade civil e empresas. Houve ainda, no ano passado, o lançamento pelo governo federal da iniciativa Arco pela Restauração, que visa recuperar a região do Acordo do Desmatamento, onde ocorrem 75% da devastação da floresta.”


