Um estudo inédito aponta que o avanço das queimadas sobre a vegetação nativa em 2024 fez do fogo um dos principais responsáveis pelo aumento das emissões de GEE (Gases do Efeito Estufa) no Brasil.
Os resultados fazem parte do policy brief “Os incêndios de 2024 no Brasil impulsionaram níveis históricos de emissões”, realizado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com o Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola).
Em 2024, vegetação nativa e pastagens representaram 93% de toda a área queimada no País, com predominância em áreas de floresta. Como consequência, as emissões de metano, um dos gases responsáveis pelo processo do efeito estufa, cresceram proporcionalmente mais do que nos anos anteriores.
Com mais floresta queimando, aumenta também a liberação desse gás, que tem um potencial de aquecimento global 28 vezes maior que o CO₂ (gás carbônico).
Para os pesquisadores, as conclusões reforçam a necessidade de políticas públicas mais robustas e chamam atenção para o crescimento dos riscos associados ao fogo.
“Os incêndios de 2024 elevaram as emissões associadas ao fogo a um patamar histórico. Esses resultados mostram que não existe política climática eficaz sem enfrentar a combinação de desmatamento, degradação florestal e secas extremas. Os dados reforçam a urgência de integrar para além do desmatamento, prevenção, resposta e monitoramento contínuo de incêndios no centro da agenda ambiental e climática do país.”, afirma Ane Alencar, Diretora de Ciências do IPAM.
O estudo ressalta que as emissões por fogo ainda não são contabilizadas integralmente nos inventários oficiais, apesar de sua crescente relevância. Em 2024, essas emissões representaram quase 100% das emissões líquidas de Mudanças de Uso da Terra, o que significa, na prática, que dobraram o total líquido reportado pelo setor, segundo os dados do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa) Coleção 13 (2025).
Para os pesquisadores, os resultados reforçam a urgência de integrar plenamente o fogo às metodologias de monitoramento e reporte, garantindo maior precisão às estratégias climáticas brasileiras.
“O ano de 2024 foi quando o Brasil viu seu território queimar de forma sem precedentes. Mas também foi o ano em que aprovamos a PNMIF (Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo). Agora, precisamos garantir sua implementação plena, com coordenação efetiva entre os entes federativos no planejamento, monitoramento e combate ao fogo. Só assim vamos evitar que novos eventos como esse se repitam, mesmo em anos de El Niño, fenômeno natural caracterizado pelo aquecimento anormal e persistente das águas do Oceano Pacífico equatorial, e também diante do avanço das mudanças climáticas.” explicou Bárbara Zimbres, pesquisadora do IPAM.
LEIA MAIS
Brasil tem menor emissão de fumaça de incêndios florestais em mais de 20 anos, diz Copernicus


