Por Paloma Lobato
Com a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) se aproximando, a transição energética ganha protagonismo no debate climático brasileiro, especialmente na Região Norte. No Pará, o avanço da energia solar fotovoltaica tem transformado não apenas a paisagem energética, mas também a vida de produtores rurais e comunidades tradicionais, consolidando-se como um dos pilares para o cumprimento das metas estabelecidas no Plano Clima do Brasil 2024–2035.
Lançado em julho pelo governo federal, o Plano Clima tem como objetivo orientar o País rumo à neutralidade de emissões líquidas de gases de efeito estufa (GEE) até 2050. A estratégia prevê ações coordenadas entre os setores público e privado, com foco na descarbonização da economia e na promoção de uma transição energética justa.
Ele tem dois pilares. O primeiro, Estratégia Nacional de Mitigação, é voltado à edução das emissões de gases de efeito estufa, que conta com sete planos setoriais: conservação da natureza, agricultura e pecuária, cidades (incluindo mobilidade urbana), energia (incluindo combustíveis e mineração), indústria, resíduos e transportes. O outro pilar, Estratégia Nacional de Adaptação, que tem o objetivo de preparar o País para os impactos das mudanças climáticas que já são inevitáveis.
Entre as prioridades setoriais, a expansão das fontes renováveis, como a solar, aparece como uma das apostas mais promissoras, especialmente nas regiões historicamente menos atendidas pela infraestrutura energética convencional.
A partir desta segunda-feira, 28, até18 de agosto, a Estratégia Nacional de Mitigação, está em consulta pública na plataforma Brasil Participativo. Para consultar, acesse aqui.
Pará no centro da revolução solar
O estado do Pará, sede da COP30, tem se destacado nesse processo. Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram crescimento expressivo da geração distribuída solar no estado nos últimos anos, impulsionado por incentivos federais, linhas de crédito rurais específicas e programas de transição energética voltados para a Amazônia Legal.
Além das instalações urbanas, a energia solar tem ganhado espaço nas áreas rurais. Pequenos e médios produtores estão adotando sistemas fotovoltaicos para eletrificar propriedades, bombear água para irrigação, refrigerar alimentos e processar produtos agrícolas. A autonomia energética no campo representa uma mudança radical, especialmente em áreas onde a rede elétrica tradicional é instável ou inexistente.
“A implantação de sistemas solares fotovoltaicos em propriedades rurais resulta em eficiência energética, principalmente no bombeamento de água, e evitando o desmatamento de coberturas vegetais para a passagem de rede elétrica rural. Com o sistema de bombeamento solar, pode-se retirar água do solo sem o uso da rede ou de baterias, barateando ainda mais os custos da produção e aumentando a eficiência na irrigação de plantações ou na hidratação de animais”, destaca o engenheiro eletricista e CEO da empresa Ver-O-Solenergia Solar, Alexandre Ribeiro.

Benefícios ambientais e econômicos
A substituição de combustíveis fósseis por energia solar no campo contribui diretamente para a redução de emissões de GEE, em linha com as metas climáticas nacionais. Além disso, a diminuição da queima de combustíveis líquidos melhora a qualidade do ar e reduz os custos de produção no médio prazo.
Segundo o Plano Clima, o setor agropecuário é responsável por cerca de 20% das emissões nacionais, sendo um dos alvos prioritários para medidas de mitigação. A adoção de tecnologias limpas, como a energia solar, é apontada como essencial para alinhar a produção rural brasileira às exigências ambientais dos mercados internacionais e aos compromissos assumidos no Acordo de Paris.
No Pará, as soluções solares também vêm sendo integradas a práticas agroecológicas, sistemas de produção familiar e cadeias de valor da sociobiodiversidade, ampliando os impactos positivos nos territórios. Projetos com povos indígenas, comunidades quilombolas e ribeirinhas têm mostrado que a transição energética pode, e deve, caminhar junto com justiça climática e desenvolvimento sustentável.
“A atuação da empresa prioriza comunidades rurais, ribeirinhas e indígenas no estado do Pará, especialmente aquelas localizadas em áreas de difícil acesso. Entre os principais desafios, destaca-se a logística complexa, que envolve transporte fluvial e terrestre em condições muitas vezes precárias. A cada projeto, reforçamos que levar energia limpa vai muito além da instalação de painéis solares: é também promover dignidade, autonomia e inclusão energética para populações historicamente marginalizadas”, ressalta Alexandre.
Desafios e oportunidades
Apesar dos avanços, o acesso à energia solar ainda enfrenta desafios na região. Barreiras como custo inicial elevado, falta de assistência técnica especializada e infraestrutura logística dificultam a expansão em áreas remotas. Por isso, o Plano Clima defende uma atuação articulada entre União, estados e municípios, com apoio a financiamentos acessíveis, capacitação local e estímulo à inovação.
“Existem alguns desafios que ainda travam o avanço da energia solar, como a nova tarifação da Lei 14.300/2022, uma vez que projetos protocolados após 2023 pagam pedágio TUSD Fio B crescente (15% em 2023 chegando a 100 % em 2029), alongando o retorno financeiro. A burocracia de conexão (REN 1.000/2021 + 1.059/2023) exige projetos elétricos detalhados, vistoria e, em algumas distribuidoras, filas de análise que podem ultrapassar 90 dias. No caso do Pará, os produtores ainda dependem de bancos estaduais ou Finame/ABC+, onde a exigência de equipamento nacional reduz as opções. Além disso, a capacidade da rede rural, com linhas monofásicas saturadas, também obriga reforços antes da conexão, encarecendo pequenos sistemas”, explica o especialista.
A previsão de novas rotas aéreas e investimentos em infraestrutura para a COP30 em Belém também deve favorecer a logística de distribuição de equipamentos solares na região. A expectativa é que o evento internacional sirva como vitrine para as soluções sustentáveis amazônicas, e como catalisador de novos investimentos.
Rumo a um campo mais limpo e conectado
A transição energética no campo paraense não é apenas uma questão de tecnologia, mas de estratégia climática e inclusão social. A energia solar, nesse contexto, emerge como uma ferramenta de transformação concreta, conectando agricultores à economia verde e colocando o Brasil em rota para cumprir seus compromissos climáticos.
“Após a instalação de sistemas solares em áreas rurais do Pará, observamos uma série de benefícios ambientais concretos que vão além da simples redução no uso de combustíveis fósseis. Esses benefícios são fundamentais para promover um desenvolvimento mais sustentável na região. A instalação de sistemas solares em áreas rurais paraenses não apenas transforma a matriz energética da região, mas também gera uma série de impactos ambientais positivos que promovem um futuro mais sustentável e resiliente para as comunidades locais”, finaliza.
Com o sol como aliado, o campo no Pará se posiciona na linha de frente da luta contra as mudanças climáticas, e na construção de um futuro mais limpo, justo e resiliente.
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