A Amazônia enfrenta uma ameaça crescente: a corrida pelo ouro tem atraído o crime organizado, alimentando uma onda de corrupção e instabilidade na região. Um novo estudo do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) revela como o garimpo ilegal não só destrói o meio ambiente – com o uso de produtos químicos perigosos como o mercúrio, desmatamento e despejo ilegal de resíduos – mas também aprofunda a crise socioal na região do Tapajós, no Pará.
De acordo com a pesquisa, dois terços do ouro extraído na Bacia do Rio Tapajós são ilegais, com grupos criminosos, cada vez mais, infiltrados nas cadeias de fornecimento de ouro, atraídos pelo aumento do valor do metal e pela alta lucratividade da atividade.
A pesquisa, que entrevistou mais de 800 garimpeiros, em 2023, revelou que 40% dos garimpeiros são potenciais vítimas de tráfico para trabalho forçado. Entre os trabalhadores, 44% relataram que foram enganados e têm péssimas condições de trabalho, com uma média de 12,5 horas por dia e 6,5 dias por semana.
Os problemas de saúde são generalizados: 71% sofrem de condições como ansiedade e depressão, e 44% já passaram por acidentes graves. Além disso, 61% dos garimpeiros disseram precisar de ajuda para encontrar novos empregos, e a maioria não tinha conhecimento de seus direitos trabalhistas e humanos.
Convergência com outros crimes
A pesquisa também destaca a conexão do garimpo ilegal de ouro com outros crimes, contra a natureza e os direitos dos povos indígenas, envolvendo a invasão de Unidades de Conservação e Terras Indígenas. O estudo ainda recela um tráfico significativo de mulheres e meninas para exploração sexual, além de relatos de violência sexual e de gênero. Mortes violentas também aumentaram nos últimos anos.
Outro ponto de preocupação é a ligação entre a mineração ilegal de ouro e o tráfico de drogas. Isso é evidenciado pelo uso compartilhado de pistas de pouso particulares e pontos de abastecimento, além de operações de lavagem de dinheiro.
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