Os efeitos das medidas preventivas do Governo Federal para prevenir e conter os incêndios florestais já estão refletidos nos dados atuais, que mostram o menor índice de pontos de calor dos últimos doze anos, nos primeiros meses de 2025, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A conquista vem em boa hora, com o País às vésperas de receber a COP30 na Amazônia — o bioma mais afetado pelas queimadas em 2024.
De acordo com o Programa Queimadas do Inpe, de janeiro a 7 de agosto de 2025, o Brasil registrou cerca de 30 mil focos de incêndio, o menor número para o período desde 2013, quando foram 28 mil. Na comparação com 2024, a queda na Amazônia foi muito expressiva, passando de 30 mil para 7 mil casos.
O monitoramento por satélite revelou uma queda substancial de 59% no total de focos em agosto. Essa redução se junta à área queimada em julho, que também foi a menor para o mês desde 2019, conforme divulgado pelo Mapbiomas.
Segundo André Lima, secretário extraordinário de Controle do Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima (MMA), a redução se deve a dois fatores.
“De fato, está tendo um número bem abaixo da média, e eu atribuo a dois fatores. O primeiro é que o ano passado foi completamente fora da curva. Saiu o efeito El Niño (que afeta padrões de chuva) e a gente voltou a ter um ano praticamente com um efeito neutro. Com um fator a mais, que foi toda a implementação da política derivada da situação do ano passado. Foi um conjunto de ações de mobilização dos atores locais, dos governos locais e estaduais, com investimento nos corpos de bombeiros e um aumento das ações também no âmbito federal, que também trazem resultados”, explica.
A ministra Marina Silva destacou que “o Brasil tem lutado para liderar pelo exemplo” e reforçou que é preciso “quebrar a inércia do resultado já alcançado”, superando os avanços a cada ano.
“Todo ano temos que nos superar”, declarou a ministra.
A infraestrutura de combate foi significativamente ampliada. O Brasil tem o maior contingente de brigadistas federais da história, com 4.385 profissionais do Ibama e do ICMBio, um aumento de 26% em relação a 2024. O Ibama também adquiriu 11 helicópteros e investiu mais de R$ 45 milhões em veículos de operação.
Os recursos para esses investimentos vêm, em parte, do Fundo Amazônia, que já aprovou R$ 405 milhões para apoiar os corpos de bombeiros dos nove estados da Amazônia Legal e, pela primeira vez, destinou verbas para ações no Cerrado e no Pantanal.
A Lei 15.143/2025, sancionada em junho, ampliou a capacidade de resposta ao permitir a transferência direta de recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) para estados e municípios, e reduz o intervalo para a recontratação de brigadistas para três meses. Em 2024, o presidente Lula também assinou um decreto que aumentou as punições por incêndios florestais.
O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, destacou a importância da infraestrutura conquistada, através de iniciativas do governo federal, ao longo do último ano.
“Na medida do possível, o que a gente percebe é que precisamos diminuir a nossa vulnerabilidade, aumentar a nossa capacidade de enfrentamento, melhorar a nossa estrutura. E é exatamente isso que nós estamos fazendo. Nós aproveitamos os recursos da crise do ano passado para melhorar nossas estruturas e, este ano, estamos muito mais preparados para agir, tanto no momento de prevenção, quanto no combate propriamente dito”, enfatiza Agostinho.
COP30
Com a COP30 se aproximando, ações específicas estão sendo realizadas em Belém, como a criação de aceiros e a execução de queimas prescritas, que criam barreiras de contenção para evitar grandes incêndios.
“A gente teve melhores condições e condições mais antecipadas este ano de realizar as ações de prevenção”, relatou João Moreira, analista ambiental do ICMBio. As queimas prescritas são amplamente utilizadas para evitar incêndios naturais de grandes proporções. Nesse caso, o fogo é provocado de forma intencional e controlada em parcelas da vegetação, o que cria uma barreira natural e evita o espalhamento de chamas em época de seca. Já os aceiros são faixas de terra em que a vegetação é retirada para criar uma espécie de “barreira física” que impeça a propagação de incêndios.
Sobre a possibilidade de conter incêndios, apesar de novembro — mês em que a COP será realizada — não ser época de seca no Brasil, há um planejamento em elaboração.
“Um estado que a gente já tem um atendimento especial é o paraense”, disse o presidente do Ibama. “O leste e o sul do território paraense são regiões que foram intensamente desmatadas no passado e onde existe a presença do fogo nas temporadas mais secas do ano. Então, nós estamos reforçando nossas equipes e aproveitando esse aumento do número de brigadistas”.
Além disso, João Moreira afirmou que não há nenhuma unidade de conservação muito próxima a Belém sob a gestão do ICMBio que tenha incêndios recorrentes, por isso, outras regiões são prioritárias para o órgão. “A gente vai dar apoio ao Ibama no que for necessário, na região metropolitana, e o nosso foco vai estar muito concentrado nas unidades de conservação da [rodovia] BR-63, próximas de Itaituba e Santarém”, complementou.
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