Com a degradação em alta devido ao aumento das queimadas e a ameaça constante do desmatamento, a Amazônia está em risco ainda maior com avanço de projetos que permitem a exploração de petróleo na foz do Amazonas. Além de aumentar os impactos ambientais, essa atividade também representa um grande perigo para o futuro da planeta e para as populações tradicionais da região. É esse cenário de colapso que o coletivo indígena Mairi e o artivista Mundano buscaram retratar no mural instalado na entrada da Universidade Federal do Pará, na rua Augusto Corrêa, bairro do Guamá.
A obra destaca o protagonismo das populações tradicionais como caminho para soluções sustentáveis e sua elaboração faz parte das mobilizações para a COP30, que ocorre em novembro deste ano em Belém. De acordo com Mundano, a proposta é denunciar a crise climática e as contradições da organização do evento, assim como ampliar as vozes amazônicas no debate sobre justiça climática.
“Este mural é um grito de alerta e resistência: transforma em arte os detritos de esgoto e obra deixados pela preparação para a COP30. Lama e restos coletados em Vila da Barca denunciam o crime ambiental em curso e expõem o que está em jogo com a exploração de petróleo na foz do Amazonas — uma ameaça à vida e aos territórios da Amazônia. Ao mesmo tempo, este mural afirma que as verdadeiras soluções para a crise climática nascem do protagonismo dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e comunidades periféricas. É arte como luta. É artivismo como resposta”, afirma o artivista.

Os detritos de esgoto e entulho de obras da conferência são apenas uma parte dos materiais incomuns e carregados de simbolismo utilizados no mural. A obra conta ainda com cinzas e carvão coletados de queimadas ocorridas em 2024 na Terra Indígena Anambé e argilas das ilhas de Caratateua e Cotijuba.
No total, são sete narrativas que contam uma história de destruição, resistência e esperança, abordando desde a representação dos impactos potenciais da exploração petrolífera na região, o retrato da devastação causada pelo fogo e o impacto das mudanças climáticas sobre os rios até homenagens a lideranças indígenas mulheres e representantes de comunidades negras como protagonistas das soluções para a crise climática.
“Este não é apenas um mural, é um manifesto visual que conecta a luta contra a exploração predatória com a sabedoria ancestral dos povos da floresta. Queremos que as pessoas de todo o Brasil compreendam que o futuro da Amazônia está diretamente ligado ao futuro do planeta e nós somos parte da solução, por isso fazemos referências às nossas lideranças indígenas, negras e quilombolas que estão à frente junto conosco”, ressalta Iacy Anambé, curadora do projeto.
Neste projeto, o artivista Mundano, que já realizou intervenções artísticas em mais de 20 países, se úne ao Coletivo Mairi, que reúne artivistas indígenas do Pará que utilizam a arte urbana como ferramenta de resistência e valorização das culturas originárias. Os artistas participantes são And Santtos, Cely Feliz e Tai.