Por Fabrício Queiroz
No ano de 2024, o planeta registrou pela primeira vez uma temperatura média 1,5ºC acima dos padrões pré-industriais. Os números indicam que o aquecimento global está acontecendo e representa um grande risco para muitas regiões. Na Amazônia, um clima mais quente e com menos chuva podem mudar a cara da maior floresta tropical do mundo, com consequência graves para várias regiões do País.
Na semana em que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho, o Pará Terra Boa tem mostrado que se, por um lado, há destruição, há, por outro, muita gente preocupada com a Amazônia, com sua preservação e conservação. São os guardiões da floresta, que, em grupos ou individualmente, cada um à sua maneira, lutam pela Amazônia.
“O meu interesse em trabalhar com biologia e ecologia ocorreu há bastante tempo porque eu acho importante que pesquisadores tenham informações para prestar para a sociedade como um todo e elas só são possíveis se você for a campo, se dedicar a fazer as análises, coletar os dados e publicar”, afirma Leandro Valle Ferreira, doutor em Ecologia e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi.
O ecólogo está à frente de uma iniciativa única no Brasil: o projeto Seca Floresta (Esecaflor), que monitora há duas décadas os impactos da redução de chuvas na Floresta Nacional (Flona) de Caxiaunã, em Melgaço, no arquipélago do Marajó. Ele explica que o trabalho tem como referência os modelos climáticos que apontam que, em um cenário de mudanças do clima, a Amazônia pode ter uma redução de 50% nas chuvas.
Para isso, é realizado um experimento com duas áreas de 1 hectare cada. Em uma delas fica coberta com painéis plásticos transparentes que impedem que metade da água da chuva chegue ao solo, enquanto a outra não sofre interferência e serve para fazer análises comparativas.

Os dados coletados mostram que a vegetação amazônica é adaptada para resistir a períodos de mais calor e menos chuvas, mas se a seca for prolongada, as raízes das árvores vão penetrando para acessar as reservas subterrâneas de água.
“As raízes vão penetrando, conforme a precipitação vai reduzindo, para tentar chegar no lençol freático que fica a entre 5 e 6 metros de profundidade. Se chegar em um momento em que o lençol freático já baixou tanto por causa da falta de chuva, as plantas não conseguem captar água e começam a morrer”, esclarece o pesquisador.
Esse impacto ocorre principalmente entre árvores maiores que compõem o chamado dossel, afetando espécies como a castanheira, angelins e sapucaias. Porém, a floresta sofre ainda com a diminuição da umidade e aumento da temperatura do solo, redução e até desaparecimento de espécies da flora menos tolerantes ao ressecamento e aumento de espécies mais adaptadas a essas condições, como cipós e palmeiras.
“Os fenômenos climáticos estão se tornando cada vez mais imprevisíveis, ou seja, estão se tornando mais intensos e com uma frequência muito menor entre eles. É por isso que a Amazônia está ficando mais seca, é por isso que os biomas brasileiros estão queimando, é por isso que quando entra nos períodos em que sai o El Niño e entra o La Niña, começa a chover muito em outras áreas e você perde totalmente o controle”, analisa o cientista sobre a tendência de piora das condições diante das mudanças climáticas.

Leandro Ferreira ressalta que a existência do Esecaflor, como um dos projetos apoiados dentro do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), é fundamental para entender o ecossistema amazônico, sua biodiversidade e como os efeitos das ações humanas e da alteração do clima sobre o bioma.
“A gente chegou num momento em que a gente não sabe se vai ter volta. A Amazônia que gente conhece hoje, já é completamente diferente”, afirma o pesquisador, que coordena a nova etapa do projeto agora focada em analisar a capacidade de resiliência da floresta depois da retirada da cobertura que impedia a chegada da chuva.