Por Fabrício Queiroz
Nesta sexta-feira, 19, é comemorado o Dia dos Povos Indígenas no Brasil. Em meio a um histórico de resistência e luta para garantia de direitos e preservação de suas culturas, línguas e territórios, essas populações passam também por um processo de afirmação de identidade deixando cada vez mais evidente que o Brasil tem uma, ou melhor, muitas caras indígenas.
Os dados do Censo 2022 deixam isso bem claro. São 1.693.535 pessoas indígenas brasileiras, o que corresponde a 0,83% do total da população. No Pará, são 80.974 indígenas que enriquecem a cultura, os modos de vida, o vocabulario e a defesa da biodiversidade da Amazônia.
População
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 51% dos indígenas paraenses residem em Terras Indígenas (TI). Ainda assim, o órgão ressalta que essa população está presente em todos os municípios do estado, sendo que a maior concentração em localidades do oeste e sudoeste paraense.
Em Santarém, foram contabilizados 16.955 indígenas; em Jacareacanga foram 14.216 pessoas e em Altamira foram 6.194. O ranking dos dez municípios com mais indígenas inclui ainda Oriximiná, Aveiro, Itaituba, Cumaru do Norte, São Félix do Xingu, Belém e Parauapebas, respectivamente.
Já em relação às terras indígenas, os territórios mais populosos são a TI Munduruku, localizada nos municípios de Itaituba e Jacareacanga, com 9.257 pessoas; a TI Kayapó com 5.455 habitantes; e a TI Andira-Maraú com população de 3.183. Além disso, em outras cinco TIs do estado, 100% da população se declarou indígena. São elas: Menkragnoti, Baú, Rio Paru D’Este, Panará e Zo’é.
Os números do Censo foram analisados pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisa (Fapespa) que destaca o crescimento de 58,1% dessa população no estado entre 2010 e 2022. As análises permitem observar a distribuição por faixa etária e por gênero. Segundo a pesquisa, 49,7% dos indígenas possuem de 15 a 49 anos, mas a proporção do número de idosos em relação ao de jovens também cresceu desde o último levantamento, passandod de 15 idosos para cada 100 crianças / adolescentes em 2010 para 21 idosos para cada grupo de 100 crianças / adolescentes em 2022.
Já em relação ao gênero, são 40.530 indigenas mulheres e 40.450 indigenas homens, o que representa o aumento da população feminina e um processod de inversão demográfica, já que os indigenas homens eram maioria no censo anterior. De acordo com o estudo, houve um crescimento de 66% no número de mulheres indigenas no estado.
Diversidade
A população indígena do Pará não é apenas grande quantitativamente, mas também em diversidade sociocultural e étnica. Estima-se que no estado existam 55 etnias. Em cada uma é possível encontrar diferentes modos de vida, formas de organização, e línguas que trazem um impacto significativo para a riqueza cultural do estado.
“Somos mais de 55 povos, com aproximadamente 80 mil indígenas, 30 idiomas, ocupamos mais de 25% do território paraense, em 77 territórios indígenas localizados em 52 municípios. Somos significativa parcela da população, que merece respeito, dignidade e acesso a serviços públicos de qualidade, estejamos na floresta, no campo ou na cidade”, declarou a secretaria de Povos Indígenas, Puyr Tembé, à Agência Pará.
Proteção da biodiversidade
Em um contexto de emergência climática, vale lembrar ainda que os povos indígenas estão há milênios defendendo as florestas, os recursos naturais e a biodiversidade da Amazônia. Um exemplo disso ocorre com o povo Sateré-Mawe, que vive em uma região de fronteira entre o Pará e o Amazonas, onde manejam o guaraná nativo único, o primeiro produto de uma população originária reconhecido com o selo de indicação geográfica.
São também os povos indígenas os grandes responsáveis por promover diversos hábitos alimentares, práticas culturais e estratégias de manejo e convivência com a natureza que fazem parte da nossa vida.
Enquanto ainda prevalece o preconceito de que essas populações devem absorver a cultura não-indígena ou se enquadrar em uma imagem deturpada pela história, os povos originários vêm demonstrando cada vez mais sua relevância tanto por seu legado sociocultural que ajudou a formar o Brasil de hoje quanto para alcançar o equilíbrio ecológico que se deseja para o presente e o futuro.