As tarifas de até 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros — anunciadas pelo presidente Donald Trump e que entraram em vigor na última quinta-feira, 6 — podem afetar mais da metade dos empreendimentos mapeados (54%) relacionados à sociobiodiversidade da Amazônia Legal.
Segundo levantamento de empreendimentos que fabricam produtos ligados à bioeconomia amazônica, desenvolvido pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), esse universo abrange 5,4 mil dos 11 mil CNPJs ativos mapeados na região inseridos nas cadeias produtivas potencialmente atingidas. Destes, pelo menos 216 empreendimentos produtores exportam para os EUA e serão impactados diretamente.
De todos os produtos mapeados pelo projeto, apenas a castanha-do-brasil e a borracha escaparam das tarifas anunciadas pelo governo dos Estados Unidos. Os demais fora da lista de isenção como açaí, cacau, mel, óleos vegetais, temperos, pescados e itens da aquicultura, geraram cerca de 165 milhões de dólares para bioeconomia da Amazônia Legal em produtos de exportação para os EUA, totalizando um volume aproximado de 39 mil toneladas.
Desenvolvimento sustentável pode ser impactado
Os empreendimentos mapeados fazem parte das cadeias produtivas da bioeconomia amazônica, formadas por atividades produtivas de extração, produção e comercialização de recursos da biodiversidade por meio do manejo sustentável. Elas despontam como parte da solução climática para o desenvolvimento sustentável e envolvem pequenos produtores, cooperativas e bioindústrias que já enfrentam desafios diários ligados à logística, crédito, infraestrutura e agregação de valor.
Pesquisadores do IPAM afirmam que o tarifaço pode ser mais uma barreira para a geração de renda das populações em territórios vulneráveis da Amazônia. As isenções tarifárias dos EUA, por outro lado, incidiram majoritariamente aos setores de mineração, petróleo e à fabricação de peças para automóveis e aviação, atividades reconhecidamente intensivas em emissões e degradação ambiental.
Bioindustrialização como Estratégia
Na análise de Gabriela Savian, diretora de Políticas Públicas do IPAM, as cadeias produtivas da bioeconomia amazônica, assim como outros produtos de exportação são vulneráveis a imposições comerciais externas.
“Apesar da isenção de alguns poucos itens, como a castanha-do-Brasil, o tarifaço tende a aumentar a pressão econômica sobre pequenos produtores e bioindústrias, justamente em um setor que ainda enfrenta dificuldades para agregar valor e competir em condições mais justas nos mercados internacionais”, comenta Savian.
Uma das apostas para fortalecer a competitividade da bioeconomia brasileira diante de mudanças no cenário internacional é diversificar os mercados nacional e internacional e reforçar a bioindustrialização de produtos amazônicos, segundo Rafaela da Costa, pesquisadora do IPAM.
“Exportar produtos primários, sem agregar valor localmente, nos torna vulneráveis a esse tipo de choque externo. A bioeconomia não é só ambiental — é econômica, social e política. É por isso que a bioindustrialização é estratégica para a Amazônia e precisa vir acompanhada de estratégias complementares, através de políticas públicas que promovam a inclusão produtiva, inovação e infraestrutura”, afirma Reis.
Segundo pesquisadores do IPAM, assim como o governo brasileiro atua em defesa dos grandes setores industriais, as cadeias da bioeconomia amazônica também devem ser consideradas nas agendas comercial e industrial do país. Essa jornada pode ser traçada pelo desenvolvimento de políticas públicas internas de incentivo à agregação de valor local.
Fonte: Ipam