A implementação de políticas públicas voltadas à regularização ambiental e à rastreabilidade do rebanho está mudando a realidade de pequenos e médios produtores no Pará. Entre eles está a produtora rural Maria Gorete Ribeiro, que há 11 anos deixou a vida urbana, onde trabalhava como secretária, para iniciar sua trajetória no campo. Hoje, ela é uma das vozes que defendem a gestão sustentável do rebanho paraense.
Gorete administra uma área de 78 hectares e ganhou destaque pela forma como incorporou as novas exigências, transformando desafios em oportunidades e engajando o setor no seu município. Ela relembra que tudo começou quando participou de palestras sobre desenvolvimento de cadeias produtivas inclusivas e sustentáveis.
“Além dos debates sobre sustentabilidade, tiraram dúvidas sobre as etapas de regularização ambiental para cada tipo de projeto de interesse, aquilo abriu meus olhos para as oportunidades: o mapa estava ali na minha frente”, diz.
A partir desse contato, vieram os novos passos rumo a regularização ambiental e o pensar estratégico para o uso da terra dentro das legislações de sustentabilidade e manejo responsável.
“Eu tinha o título, mas me faltava o CAR (Cadastro Ambiental Rural), e a SEMAS (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade) fez umas palestras mostrando como poderíamos fazer o processo. Daí eu consegui validar o CAR, tive acesso a crédito, comprei o rebanho e ao mesmo tempo já veio a oportunidade de fazer também a identificação animal”, conta.
Até então, ela atuava apenas com lavoura, baseada no açaí e cacau, mas ao conhecer as possibilidades nas palestras, um novo mundo se abriu. Agora, além da renda obtida pelos plantios, ela também aderiu a programas como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), o Regulariza Pará e o Sistema de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará (SRBIPA), gerando novas oportunidades de negócio.
Com 70 cabeças de gado em uma pequena propriedade, Gorete ganhou um papel fundamental na pecuária local por virar um modelo de como a rastreabilidade pode avançar não apenas como regulamentação, mas como cultura de manejo e gestão.
“Fui a primeira produtora de Novo Repartimento a identificar todo o rebanho e a primeira a fazer a venda direta ao frigorífico”, relembra. “Quando está tudo dentro das regras, vem a oportunidade de participar de vários programas e diversificar o uso dessa terra com um suporte que, por ser uma pequena produtora, jamais conseguiria com recurso próprio”.

Ferramenta de gestão
Aproveitando o acesso às informações e o caminho aos órgãos públicos, Gorete decidiu ampliar a experiência no tema para engajar outros produtores ao longo do processo. Para isso, ela chegou a fazer o curso de Operador de Identificação Animal (OPR), como forma de ser um apoio local ao setor.
Para ela, a rastreabilidade não é apenas uma exigência, mas uma ferramenta de gestão. “É uma identificação para o Estado, sim, mas principalmente para o produtor”, afirma.
“Saber exatamente onde e como está cada animal, como está acontecendo o manejo e essa integração toda ao sistema produtivo do estado facilita a tomada de decisões e abre portas para esses mercados mais exigentes aí de fora”, conta.
Gorete aproveitou as possibilidades da sua área para investir na recuperação de áreas de preservação permanente, cercando nascentes, instalando corredores para controlar o acesso do gado e direcionar esses animais para beber água limpa, o que, segundo ela, influencia diretamente na saúde e no ganho de peso.
“Sem água não tem vida, essa foi a primeira grande melhoria que veio arrastando todas as demais dentro da porteira”, diz a produtora, explicando que o pisoteio do gado compacta o solo e compromete a recarga das nascentes.
Exemplo e respeito
Essas ações, somadas ao plantio contínuo de árvores desde que comprou a propriedade, já refletem um cenário diferente. Se antes enfrentava resistência por ser uma mulher implantando técnicas diferentes nas suas terras, os bons resultados transformaram Gorete num exemplo dentro na comunidade, ajudando a convencer outros produtores a ver a sustentabilidade como uma aliada no dia a dia.
“Sou mulher, produtora rural, proprietária, e os caras não queriam me respeitar. Conforme o resultado chegava, mostrando que dá certo sim investir no meio ambiente como vantagem para o negócio, essa falta de respeito foi caindo e, aos poucos, eles já vinham perguntar como fazer para ir até determinado órgão ou tirar dúvidas direto comigo”, afirma.
A produtora acredita que, assim como aconteceu com ela, outros colegas podem se beneficiar ao encarar a rastreabilidade e a regularização ambiental como uma oportunidade de avanço. Ela destaca que é a primeira vez que vê um projeto como este ter parcerias diretas com o mercado de varejo e exportação:
“Não é só mais uma exigência, é uma estratégia de gestão (o SRBIPA). Eu entendo que alguns produtores rejeitam por medo de dar errado, mas existe um esforço em fazer dar certo para não ser só mais uma exigência e sim um legado real. É a primeira vez que vejo gente do mercado envolvida e acredito muito nesse sucesso. Já pensou se um dia alguém me liga e diz que viu o selo da carne no supermercado? É um orgulho já fazer parte disso”, diz.


