Por Fabrício Queiroz
Quem acha que chocolate é tudo igual, provavelmente nunca provou os sabores únicos e marcantes dos produtos feitos com amêndoas de cacau da Amazônia. O fruto tem características próprias nas diferentes regiões e essa diversidade faz da degustação de cada chocolate uma nova experiência. A valorização dessa riqueza é a essência do trabalho do chocolatier César De Mendes que agora possui uma sociedade com uma desenvolvedora de startups para ampliar sua atuação no mercado nacional e internacional.
Reconhecido pelo trabalho com chocolates produzidos com cacau produzido em sistemas agroflorestais e manejado por populações tradicionais da Amazônia, o chocolatier vendeu parte da empresa De Mendes para a CBKK, uma organização que apoia a aceleração de negócios de impacto socioambiental. O aporte de R$ 8 milhões deve ajudar no aumento de produção e na consolidação de uma nova marca: a Mágio, que terá um perfil mais comercial do que a De Mendes que continuará existindo.
“Não muda nada. Só fortalece o nosso propósito. Eu continuo fazendo esse contato com os fornecedores e com as comunidades, abrindo novas fronteiras. O que mudou foi a criação da nova marca, Mágio, que está dentro da estrutura da De Mendes. Enquanto a De Mendes trabalha com cacau mais puro, um chocolate original e com poucos ingredientes; a Mágio vai ter produtos em barra, biscoitos de castanha e cupulate, que tem um perfil mais comercial e podem ser trabalhados com uma abordagem mais mercadológica”, explicou César De Mendes.
As metas são grandiosas. A estimativa é aumentar a produção de 12,5 toneladas por ano para 100 toneladas por ano. Além disso, os planos preveem a abertura de lojas e outros pontos de venda partindo de São Paulo. Aliado a isso tem uma fábrica instalada em Santa Bárbara do Pará e uma rede de comunidades fornecendo cacau nativo vindo de locais como a Terra Indígena Yanomami, em Roraima; o Vale do Jari, entre os estados do Amapá e Pará; os territórios agroextrativistas do Acará-Açu, no Pará; e a ilha de Tauaré, em Mocajuba, também no Pará.
“Eu não tinha dinheiro para fazer tudo que é necessário: desenvolvimento de pesquisa e de produtos, prospecção de novos fornecedores e expansão de mercado. Esse investimento veio para melhorar o mercado, abrir novas fronteiras comerciais e bancar o custo da rastreabilidade do cacau”, acrescenta.
Além disso, César De Mendes diz que a empresa tem ganhos na gestão administrativa, financeira e contábil, o que é essencial para um crescimento planejado e organizado do negócio. Com novas parcerias, mas sem perder a identidade construída, a De Mendes pretende apostar de vez na exportação de amêndoas da Amazônia para indústrias de chocolate fino da Europa.
“Ano passado já fizemos uma pequena exportação para a França. Foi um ensaio para ver o que podemos incrementar. Temos um potencial de crescimento muito grande com a exportação de amêndoas e, por isso, queremos investir não só na internacionalização da marca, mas na rastreabilidade desse produto”, reforça De Mendes.
LEIA MAIS:
Agroecologia ajuda mulheres do campo a resistirem à degradação da Amazônia
Biofábricas estimulam protagonismo das comunidades na produção de chocolate amazônico