A bioeconomia representa hoje uma oportunidade de promover o desenvolvimento econômico da Amazônia com ganhos sociais e proteção da floresta em pé. Apesar do grande potencial, o setor enfrenta dificuldades para deslanchar principalmente porque os mecanismos de financiamento ainda são deficientes e criam barreiras que dificultam o acesso ao crédito para comunidades tradicionais, por exemplo.
Essa é a conclusão de um estudo elaborado pela rede Uma Concertação pela Amazônia, com a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e a Frankfurt School of Finance and Management, com apoio da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD). A pesquisa analisou 159 mecanismos financeiros e apontou as principais lacunas para atender um público maior.
Entre essas lacunas estão a dificuldade de adaptação à realidade da Amazônia, como a existência de CNPJ, cooperativa estruturada, oferta de garantias ou ainda a exigência de presença física nos bancos, o que atrapalha a busca de empréstimo, já que as viagens de algumas localidades até a agência mais próxima pode durar dias no caso comunidades acessadas somente por barco.
Outros problemas identificados foram os editais com linguagem complexa e as concorrências válidas para todo o País, o que dificulta a seleção de comunidades onde o nível de escolaridade é baixo e há pouca formalização para negócios.
“Os instrumentos financeiros formados precisam estar melhor adaptados à realidade amazônica”, disse ao Estadão Georgia Moutella, coordenadora de conhecimento da rede Uma Concertação pela Amazônia.
A recomendação do estudo é que o setor público deve dar o pontapé inicial para impulsionar a bioeconomia. O Estado assumiria o risco inicial e poderia ajudar a atrair capital privado, corrigir as falhas de mercado e contribuir para a melhora da infraestrutura institucional. Em um segundo momento atuariam as instituições filantrópicas que têm uma característica menos burocrática e podem oferecer a assistência técnica necessária.
Além disso, a pesquisa sugere a criação de fundos garantidores voltados para fomentar a bioeconomia e mecanismos financeiros para atração de capital privado. A ideia é juntar esse recurso com o dinheiro público e da filantropia (chamado de blended finance) para acelerar a bioeconomia em fases de maturidade de diferentes projetos.
“Diminuir a burocracia social dos empréstimos, simplificar os editais, entender os mecanismos de garantia mais adequados para os diferentes perfis socioeconômicos. Também se pode ter uma melhor transparência e mensuração dos mecanismos, do quanto os instrumentos estão fortalecendo a bioeconomia, e qual é o impacto na preservação”, reforça Georgia Moutella.
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