O estado do Pará é o maior emissor de metano (CH4) do Brasil por habitante, devido ao uso precário de lenha para cozinhar (cocção). Esse dado, que aponta para uma grave pobreza energética, vai ser abordado por Felipe Barcellos, pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), durante o painel “Do compromisso à implementação: acelerando a mitigação do metano no Brasil”, realizado na Blue Zone da COP30. O dado faz parte do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), uma iniciativa do Observatório do Clima.
Segundo o pesquisador adiantou ao Pará Terra Boa, a análise do SEEG, que neste ano aprimorou o cálculo das emissões de metano por uso residencial de energia por estado, mostra que a emissão de CH4 por cocção está intimamente ligada ao uso precário e improvisado de fogões a lenha e carvão vegetal. Mesmo em valores absolutos, o Pará já é o maior emissor, mas a ponderação por habitante reforça um problema estrutural na região amazônica.
“Acaba sendo um uso, na verdade, precário, muitas vezes improvisado de fogões a lenha. Isso indica mais uma pobreza energética do que um uso adequado de biomassa ou de bioenergia”, diz o pesquisador.
Barcelos alerta que o uso de lenha para cocção não apenas libera CH4 (um gás com potencial de aquecimento 28 vezes superior ao CO2), mas também emite poluentes que causam males diretos à saúde, como monóxido de carbono e material particulado.
Nesse sentido, o IEMA defende que a redução das emissões de metano a partir da diminuição do consumo de lenha, principalmente em contextos urbanos, é crucial. A meta é excluir o uso de lenha no contexto urbano até 2030, por meio de programas de acesso a energia de melhor qualidade.
Para Barcellos, essa política pública é um exemplo de transição energética justa, por proporcionar o “melhor dos mundos”: o país reduz suas emissões de CH4, cumprindo o Acordo de Paris e o Global Methane Pledge (compromisso de redução de 30%), ao mesmo tempo em que melhora a qualidade de vida da população, diminuindo a pobreza energética e as desigualdades sociais e regionais.


