Por Tereza Coelho
Em meio à polêmica sobre os preços praticados nos quiosques de alimentação do Parque da Cidade, palco da Cúpula do Clima e da COP30, que inicia na próxima semana, um estabelecimento focado em alimentos orgânicos da sociobioeconomia, conquistou tanto o paladar quanto o bolso do público. A verdadeira iguaria do Restaurante da Sociobio, no entanto, não está no prato, mas sim na missão: provar, na prática, que pequenos produtores rurais têm a força e a logística para abastecer um evento de dimensão global como a Cúpula do Clima.
Em entrevista ao Pará Terra Boa, Luiz Carraza, secretário executivo da Cooperativa Central do Cerrado, explica que a iniciativa é uma parceria com a Rede Bragantina de Economia Solidária, que, assim como a Central do Cerrado, trabalha com a produção e a comercialização de produtos orgânicos da agricultura sustentável.
“Não somos um restaurante, estamos aqui para comercializar e apoiar os produtos da agricultura familiar usando a comercialização como um meio”, conta.
Alimentos da sociobioeconomia são aqueles produzidos de forma sustentável por comunidades tradicionais e pequenos produtores rurais, valorizando a biodiversidade local e garantindo, simultaneamente, a conservação ambiental e a geração de renda justa.
A representação de mais de 300 mil famílias que vivem da agricultura familiar nos pratos da COP30 sai da simbologia para a prática, celebrada por Carraza. Ele revela que o grande objetivo da iniciativa é ‘fisgar’ a atenção e o estômago de chefes de Estado, negociadores e do público da COP30 para o potencial de se incentivar políticas que fortaleçam a economia sustentável de base agrícola.
“Nosso propósito final é gerar mais oportunidade de renda para essas comunidades continuarem com seus plantios e vivendo de forma tradicional, conservando biodiversidade, paisagem, territórios, ar, água e toda a rede de manutenção dos modos de vida voltados à cultura tradicional. Essa oportunidade é gerada em cada prato que servimos aqui”, destaca.

Viralizando boas causas
Um dos grandes desejos de quem trabalha com projetos socioeconômicos é engajar o grande público, mas, no caso do Restaurante da SocioBio, isso aconteceu de uma forma jamais imaginada durante a Cúpula do Clima: o preço elevado de diversos alimentos dentro da Blue Zone, onde uma coxinha custa R$ 42 e um refrigerante em lata chega a R$ 25, virou alvo de polêmica e debates na imprensa e nas redes sociais.
Entretanto, o Restaurante da Sociobio, que desde o dia 27 de outubro alimenta voluntários e a força de trabalho do local, acabou virando a ‘salvação’ econômica de quem precisa se alimentar no local, oferecendo o serviço de sirva-se à vontade com direito a suco por R$ 40. Rapidamente, a mensagem começou a ser compartilhada em grupos na internet e virou referência em alimentação com sabor caseiro e com propósito. E tem mais coerência do que se alimentar de comida sustentável em uma conferência sobre o clima?
Carraza diz que viralizar é bom e que o local está preparado para atender ao público da COP30, mas que a felicidade maior é trazer a visibilidade necessária para seu propósito principal. A meta da SocioBio é servir 120 mil refeições até o fim da COP30.
“Já servimos mais de 3 mil refeições só no nosso primeiro dia. Se parte dessas pessoas ir em busca da gente e de outras comunidades envolvidas, negociando, fazendo acordos e valorizando nosso propósito, que é fortalecer quem trabalha no campo de forma sustentável, são mais de 300 mil famílias beneficiadas, já atingimos nosso objetivo. Nossa felicidade é fazer o dinheiro chegar até elas, que trabalham diariamente para a preservação e manejo sustentável do meio ambiente”, conclui.

Como chego lá?
O Restaurante da Sociobio funciona diariamente a partir das 11h na ala de restaurantes do Hangar – Centro de Convenções da Amazônia, que está dentro da Blue Zone.
Ele ficará aberto durante toda a programação da Cúpula do Clima e da COP30, encerrando no dia 23 de novembro. Os itens do cardápio são atualizados todos os dias, contando com opções veganas, sem glúten e lactose.


