A menos de cinco meses da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em Belém em novembro de 2025, os preços exorbitantes da hospedagem na capital paraense transformaram-se em um grande problema para o governo brasileiro. A situação é tão grave que já gerou uma crise diplomática durante uma reunião preparatória em Bonn, na Alemanha, colocando a presidência brasileira da conferência em uma posição delicada.
Delegações oficiais enfrentam há meses dificuldades para encontrar acomodação. Algumas já indicam que podem ser forçadas a enviar equipes reduzidas, enquanto outras não descartam a ausência completa do evento, o que seria um constrangimento para a imagem do Brasil como anfitrião.
Diante desse cenário, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), vinculada ao Ministério da Justiça e da Segurança Pública, abriu um processo para investigar a cobrança de preços abusivos por parte dos hotéis. Pelo menos 23 estabelecimentos foram notificados, segundo a Folha de S.Paulo.
Na notificação, foram pedidos dados detalhados sobre a evolução anual das tarifas, por tipo de acomodação, desde 2019 até hoje, além de comparações entre os valores praticados no período da festa do Círio de Nazaré, que acontece anualmente na cidade.
Segundo a reportagem, que teve acesso a orçamentos pedidos pela Presidência da COP30 para três hotéis de Belém no perídodo do evento, as diárias cobradas eram R$ 6 mil a R$ 6.500 (Ibis Styles Hangar), R$ R$ 19.960 (Radisson Hotel Belém) e R$ 25.773 (Tivoli Maiorana Belém).
Segundo a Senacon, “a elevação desproporcional de preços sem justificativas claras, ou a apresentação incompleta de condições de contratação, configura um desequilíbrio na relação de consumo”. O órgão afirma que há indicações de aumento superior a 1.000% em relação à média histórica de preços.
A resposta do setor hoteleiro não poderia ser pior A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) no Pará manifestou “profunda preocupação” e pediu que a Senacon reavalie as notificações, classificando a ação do governo como “ingerência indevida na atividade econômica privada”.
A ABIH alega que a apuração do governo se baseia em “especulação” da imprensa, sem um estudo técnico sólido, e que os pedidos de informações são “extensivos, sensíveis e estratégicos”, ferindo princípios constitucionais.
O setor também questiona a comparação com o Círio de Nazaré, argumentando que o perfil de público e as exigências logísticas para um evento da ONU são radicalmente diferentes. Além disso, a associação vê a requisição de notas fiscais e contratos como um “risco direto à competitividade do setor”.
O embate entre o governo e o setor hoteleiro se intensifica, tornando-se um dos principais desafios para o Brasil na preparação da COP30, um evento crucial para as discussões climáticas globais.
A Senacon negou qualquer tipo de tentativa de intervir em preços e disse que está cumprindo suas atribuições legais. “Trata-se de um procedimento administrativo legítimo, com o objetivo de garantir transparência, equilíbrio e respeito aos direitos dos consumidores”.
Na semana passada, governo, corretoras e imobiliárias de Belém assinaram um termo que define boas práticas para os aluguéis durante COP30. Em maio, a Bnetwork, empresa que atuou em edições anteriores do evento em Baku e Dubai, foi anunciada como plataforma oficial de hospedagem da COP30.
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