O caminho para a COP30 em Belém, no Pará, começou oficialmente em Brasília com a Pré-COP – um encontro preparatório que reuniu representantes de 67 nações. Em uma agenda marcada por tensões globais, o vice-presidente Geraldo Alckmin assumiu a abertura na ausência do presidente Lula, que estava em viagem à Itália.
O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, revelou a principal meta da reunião: forjar um consenso prévio para evitar “bloqueios” durante as negociações cruciais em Belém. No entanto, o cenário diplomático já mostra falhas, com a ausência dos Estados Unidos e o notório silêncio da União Europeia sobre sua meta climática, o que leva o Sul Global a liderar os diálogos, conforme apontado por analistas.
Na tribuna, Alckmin reforçou o compromisso do Brasil em alcançar o “desmatamento ilegal zero até 2030”, mencionando a queda de quase 50% no desmatamento e as políticas brasileiras para a indústria e energia verde.
“Com essa estratégia, o Brasil reafirma sua vocação como potência em bioenergia e inovação climática. Enquanto o mundo ainda debate caminhos, nós já temos resultados concretos, legislação moderna e governança integrada”.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, cobrou o financiamento de programas ambientais dos países desenvolvidos.
“Os recursos destinados à proteção [da natureza] estão muito aquém do necessário. Estima-se a necessidade de US$ 282 bilhões por ano, mas hoje contamos com apenas um quarto desse valor. Para preencher essa lacuna, precisamos mobilizar um menu de ações concretas de financiamento para a natureza. (…) Não se trata de doação, mas de investimento”, afirmou Marina Silva.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu a urgente reforma dos bancos multilaterais para destravar o financiamento climático global. Haddad, que chefia o Círculo de Ministros das Finanças da COP30, colocou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) como uma “proposta-chave”.
Para o ministro, a articulação deste fundo com o mercado internacional de crédito de carbono é a fórmula para transformar os ambiciosos objetivos de Belém em “resultados concretos” para o financiamento de US$ 1,3 trilhão em jogo.
A voz das ruas
Se a diplomacia se concentrou nas salas, a sociedade civil garantiu que suas demandas ecoassem pela capital.
O Ministério da Justiça foi palco de uma marcha de cerca de 200 indígenas, que levaram um documento gigante e uma caneta inflável de cinco metros, pressionando o Presidente Lula a finalizar a demarcação das Terras Indígenas antes da COP30.
Simultaneamente, organizações dominaram o cenário urbano com outdoors e cartazes perto do aeroporto de Brasília, cobrando o fim dos combustíveis fósseis e buscando incluir o tema na pauta dos negociadores.
Em uma poderosa demonstração de urgência, crianças e adolescentes do Brasil enviaram 1.300 mensagens aos participantes, relatando os impactos climáticos em suas vidas. A ação Do Presente ao Futuro com Adaptação Climática também projetou um apelo em oito cidades — de Brasília a Alter do Chão (PA) — exigindo que os países tripliquem o financiamento para adaptação, para evitar um colapso financeiro pós-2026.