A cidade de Bonn, na Alemanha, volta a ser o centro das discussões climáticas globais, ao sediar 16 e 27 de junho a Conferência Climática Intermediária. Longe dos holofotes das grandes Conferências das Partes (COPs), este encontro atua como um laboratório essencial, onde os técnicos e negociadores da ONU trabalham nos detalhes que pavimentam o caminho para as decisões políticas de alto nível. É aqui que o “arroz com feijão” das negociações climáticas é cozinhado, preparando o terreno para compromissos mais ambiciosos, Neste ano, especialmente, para a COP30, que acontece em Belém, em novembro.
A cada ano, a Conferência de Bonn se dedica a discussões sobre uma vários tópicos técnicos. Isso inclui o progresso das metas de mitigação (redução de emissões), adaptação (preparação para os impactos da mudança climática), financiamento climático (como os países ricos ajudarão os mais pobres), transferência de tecnologia, transparência nos relatórios de emissões e, crescentemente, o tema de perdas e danos causados pelo clima.
Em essência, Bonn é onde se aprimoram os rascunhos de textos e as propostas que serão apresentados e, esperançosamente, aprovados nas COPs.
Por essa razão que o presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, fez um pedido para que os negociadores que participarão da reunião em Bonn avancem em “resultados concretos” quanto às questões que serão tratadas na COP30, em Belém.
“Avançar em Bonn em questões que, de outro modo, seriam deixadas para a COP pode ajudar nosso processo a evitar os riscos e tensões que vêm prejudicando a confiança mútua ano após ano”, disse Corrêa em carta publicada em 23 de maio.
Segundo ele, a atual Presidência está trabalhando em conjunto com a Presidência da COP29 e com os presidentes dos órgãos subsidiários da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) para assegurar que, durante a reunião em Bonn, sejam tomadas decisões que serão adotadas formalmente na COP em Belém.
A importância de Bonn para a COP30
A relevância da Conferência de Bonn ganha ainda mais importância ao pensarmos na COP30, apontada como um marco histórico, pois se espera que seja a primeira a focar intensamente na implementação e na ação concreta das metas climáticas.
Para entender essa transição, é fundamental revisitar a história recente: o Acordo de Paris, firmado na COP21 (em 2015), estabeleceu as grandes metas globais para limitar o aquecimento do planeta. No entanto, o que se seguiu a Paris foi um período intenso de negociações para criar um conjunto de regras e diretrizes sobre como os países deveriam cumprir e reportar seus compromissos.
Esse processo de regulamentação consumiu as COPs seguintes, com marcos importantes como a COP24 (Katowice, 2018) e a COP26 (Glasgow, 2021), que finalmente consolidaram a maior parte desse livro de regras.
O foco agora se volta para a ação. A COP30, em Belém terá a responsabilidade de catalisar a execução das metas de Paris, impulsionando a ambição dos países em suas contribuições nacionais (NDCs) e, crucialmente, buscando avanços significativos no Novo Objetivo Coletivo Quantificado sobre Financiamento Climático (NCQG).
Este será um dos pontos mais sensíveis e importantes da COP30: definir quanto os países desenvolvidos, historicamente os maiores emissores, deverão doar aos países em desenvolvimento para que estes possam mitigar suas emissões e se adaptar aos impactos do clima.
Dessa forma, a Conferência Climática de Bonn não é apenas um aquecimento; é uma etapa crítica de pré-negociação técnica e política. As conversas, os avanços e os impasses que ocorrem em Bonn moldam diretamente o que será possível – ou não – alcançar na COP30. É o alicerce silencioso onde as pontes são construídas, determinando o ritmo e a direção da resposta global à crise climática nos próximos anos.