Um novo estudo científico publicado na revista Communications Earth & Environment, do grupo Nature Portfolio, forneceu um argumento fundamental para a defesa de territórios quilombolas: a preservação ambiental.
A pesquisa, que analisou terras quilombolas no Brasil, Colômbia, Equador e Suriname, provou que as áreas geridas por esses povos coincidem com locais de alta biodiversidade e grande estoque de carbono irrecuperável — aquele que, se perdido, leva mais de 30 anos para ser recuperado.
Este tema será o foco do evento “Raízes Resistentes: mulheres afrodescendentes pela justiça climática e biodiversidade”, que acontece neste sábado (15), durante a COP30, no Museu Goeldi, a partir das 10h.
O artigo, o primeiro a combinar dados estatísticos, espaciais e históricos para quantificar este papel, enfatiza que, apesar das contribuições concretas, as vozes e experiências dos povos afrodescendentes são frequentemente negligenciadas em fóruns globais de clima e biodiversidade.
A gestão histórica desses povos gerou resultados ambientais concretos, como a redução na perda florestal entre 29% e 55%, em comparação com outras áreas. Embora ocupem menos de 1% do território total dos quatro países, essas terras armazenam mais de 486 milhões de toneladas de carbono irrecuperável, superando a média nacional combinada, e se sobrepõem a 46% das espécies de vertebrados ameaçadas nos países estudados.
“As comunidades quilombolas, no Brasil, e outros povos afrodescendentes nos países vizinhos, com suas histórias de resistência e sabedoria ancestral sobre a natureza, não apenas conservam as florestas, mas oferecem o caminho para respostas rápidas e eficazes às mudanças climáticas”, ressalta Martha Rosero, da Conservação Internacional e autora do estudo, que estará no debate.
Para ela, o reconhecimento formal de terras, como os territórios quilombolas titulados, é, portanto, um mecanismo eficaz para garantir não apenas a justiça social, mas também a integridade dos biomas e o cumprimento de metas globais de conservação e clima.
O debate contará ainda com a participação de Fran Paula (Conaq), Valéria Carneiro (Fundo Quilombola Mizizi Dudu), Vanuza Cardoso (Quilombo Abacatal), Margaret Rugadya (Tenure Facility) e a autora do estudo, Martha Rosero (Conservação Internacional).
Pesquisa mostra vulnerabilidade dos quilombolas
Um estudo inédito lançado pelo Instituto Sumaúma nesta quinta-feira (13), na COP30, revela o quanto estes territórios tão importantes para a conservação da floresta são vulneráveis.
Entre a crise climática e a violação de direitos humanos nos territórios quilombolas brasileiros, a pesquisa, intitulada Corpos-territórios quilombolas e o fio conectado da ancestralidade, aponta que invasões e garimpo ilegal ocorrem em quase 60% das comunidades quilombolas no país.
Os dados demonstram que esses territórios são altamente vulneráveis:
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54,7% dos territórios já reportam secas extremas.
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43,4% sofrem com a perda de suas plantações.
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64,2% das lideranças encontram dificuldades para captar recursos devido ao racismo estrutural e à exclusão por parte do ecossistema de filantropia.
- A urgência das comunidades está concentrada em racismo (87%), demanda por políticas públicas (85%) e educação (77,4%).


