A história de uma rodovia do Pará, a PA-458 (que liga Bragança a Ajuruteua), está prestes a ser reescrita: de um erro da “engenharia cinza” das décadas de 70/80, que sufocou manguezais e causou alagamentos, ela se tornará o primeiro grande laboratório brasileiro de Infraestrutura Verde-Cinza (IVC).
A requalificação, proposta pela Conservação Internacional (CI-Brasil) e parceiros, será lançada nesta segunda-feira (17) na COP30 e marca uma virada histórica na Amazônia costeira: pela primeira vez, uma rodovia será reprojetada para operar com a natureza, e não contra ela.
O modelo inovador une ciência climática, engenharia e Soluções Baseadas na Natureza (SBN) para transformar a vulnerabilidade em resiliência. O estudo técnico, que está sendo lançado na COP30, revela um potencial raro: a restauração ecológica, associada às intervenções de IVC ao longo de 8 km da PA-458, permitirá recuperar 363,28 hectares de manguezais, restaurar a circulação natural das marés e remover mais de 106 mil tCO₂eq até 2050, apenas na área diretamente afetada.
Considerando as zonas adjacentes degradadas por turismo desordenado, queimadas e ocupação urbana, o potencial total de remoção supera 409 mil tCO₂eq, reforçando a relevância da Amazônia costeira como um dos maiores reservatórios de carbono azul do planeta.
Economia e prosperidade local
Além do ganho climático, o projeto é uma decisão econômica inteligente. As soluções híbridas – que incluem passagens hidráulicas, microcanais e restauração de manguezais – podem gerar até 30% de economia em custos de manutenção da estrada, estender sua vida útil e fortalecer a segurança e a mobilidade de milhares de famílias que dependem da via para a pesca e o acesso a serviços.
Conforme Renan Alves, gerente de Carbono Azul da CI-Brasil: “o futuro da infraestrutura na Amazônia começa quando a engenharia aprende com a natureza”. A requalificação da PA-458 inaugura um novo padrão para o desenvolvimento do Brasil, onde cada obra pública pode ser um corredor de resiliência, carbono azul e prosperidade local.
A iniciativa já é vista como estratégica para o Brasil, alinhada ao Novo PAC e com forte potencial de financiamento climático internacional para adaptação baseada na natureza. O recado é claro: proteger ecossistemas costeiros não é só ambiental, é uma decisão econômica estratégica.


