O sabor picante e o formigamento característico do jambu podem estar prestes a conquistar a ciência e a medicina. Um novo estudo de universidades brasileiras revelou que a planta típica da Amazônia possui propriedades promissoras para combater inflamações crônicas, oferecendo uma alternativa natural a pacientes com artrite e dermatite, que hoje dependem de medicamentos fortes e com longos históricos de efeitos colaterais.
A planta, típica da bacia amazônica, é bastante popular na culinária paraense, presente em pratos como tacacá, arroz paraense e pato no tucupi.
O alvo da pesquisa, realizada pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), pela Unifal (Universidade Federal de Alfenas) e pela UFOB (Universidade Federal do Oeste da Bahia), foi o espilantol – molécula ativa do jambu responsável pela sensação de dormência na língua. A partir dela, os pesquisadores identificaram dois compostos com ação anti-inflamatória semelhante à da dexametasona, um corticoide potente amplamente utilizado no tratamento de inflamações.
“Além disso, os compostos atuam por um mecanismo duplo, inibindo duas enzimas associadas ao processo inflamatório — característica geralmente restrita a medicamentos de maior potência e com maior risco de efeitos adversos”, detalha o professor Júlio Cezar Pastre, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp e um dos inventores da tecnologia.
Segundo Pastre, o perfil das moléculas é compatível com aplicações que exigem uso mais prolongado.
“Como elas são inspiradas em compostos naturais, e já demonstraram boa resposta em testes iniciais, inclusive em ensaios in vivo, há espaço para pensar em formulações de uso contínuo, desde que avaliadas com os devidos critérios de segurança”, afirma.
Alternativa mais segura
Com a conclusão promissora, o próximo passo da pesquisa é estabelecer parcerias com a indústria farmacêutica para realizar testes em animais de maior porte e, futuramente, avaliar o potencial do jambu no tratamento de inflamações em humanos.
A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de medicamentos naturais com menos efeitos colaterais, oferecendo uma possível alternativa para pacientes que dependem de terapias anti-inflamatórias de longo prazo.