Em quatro décadas, o Pará perdeu 15% de vegetação nativa, que caiu de 93% em1985 para 78% em 2024. Isso significa que só no Estado, 18,7 milhões de hectares da Floresta Amazônica foram convertidos em áreas urbanas, de mineração, agricultura e, sobretudo, pecuária, que representa a maior pressão sobre o bioma.
Nesse período, o Brasil perdeu 111,7 milhões de hectares entre 1985 e 2024. Essa área, que corresponde a 13% do território nacional, é maior que a Bolívia.
Os dados fazem parte da coleção 10 de mapas anuais de cobertura e uso da terra do MapBiomas, lançada nesta quarta-feira, 13, e mostram que o estado ocupa a 6ª posição no ranking nacional de cobertura vegetal.
Essa tendência acompanha a realidade de toda a Amazônia, que no mesmo período perdeu 52,1 milhões de hectares de áreas naturais, o equivalente a 13% de sua cobertura original. Para se ter ideia, apenas entre 1995 e 2004 a conversão chegou a 21,1 milhões de hectares, mais que todo o desmatamento registrado até 1985.
O lançamento da coleção MapBiomas 2025 chega em momento importante, quando o Brasil se prepara para sediar a COP30 em Belém, reforçando a importância de dados robustos para subsidiar decisões estratégicas sobre o futuro da Amazônia e do planeta.
Cenário nacional
Essas transformações se repetiram em todos os outros biomas. Entre 1985 e 2024, o País perdeu em média 2,9 milhões de hectares de áreas naturais por ano. Hoje, o Brasil é dividido principalmente entre vegetação nativa e agropecuária, que ocupam 65% e 32% do território, respectivamente.
“Até 1985 – ao longo de quase cinco séculos com diferentes ciclos da expansão da fronteira agrícola – o Brasil converteu 60% de toda área hoje ocupada pela agropecuária, mineração, cidades, infraestrutura e outras áreas antrópicas Já os 40% restantes dessa conversão ocorreram em apenas quatro décadas, de 1985 a 2024”, resume Tasso Azevedo Coordenador Geral do MapBiomas.
Avanço da pecuária e da mineração
Segundo o levantamento, três em cada cinco hectares de agricultura na Amazônia surgiram nos últimos 20 anos, e a Amazônia lidera o ganho de novas áreas de pastagem no País. No caso do Pará, especificamente, as pastagens saltaram de 3% para 17% do território, enquanto a agricultura manteve participação reduzida.
Outro dado preocupante diz respeito ao avanço da mineração: 58% da área de mineração do Brasil surgiu na última década (2015–2024), com 65% desse total concentrado na Amazônia. Dois terços desse total surgiram apenas nos últimos dez anos, impulsionada principalmente pelo garimpo.
Amazônia mais seca
Essas mudanças se somaram à crise climática e deixaram a Amazônia mais seca. Na última década, o bioma também enfrentou estiagens severas, com oito dos dez anos de menor superfície de água registrados desde 1985. Como consequência, tivemos recordes de queimadas registrados em 2024, incluindo incêndios em áreas de floresta.F
“A gente teve recorde de queimada em 2024, inclusive, na área de floresta da Amazônia, que normalmente não era um padrão. A queima está muito associada ao desmatamento, à limpeza de áreas para pastagem, mas em 2024, por estar muito seco, tivermos uma grande extensão de florestas queimadas”, explicou o coordenador técnico do Mapbiomas, Marcos Rosa.
Sinais de recuperação
Apesar das perdas, parte das áreas degradadas apresenta sinais de recuperação. Na última década, 6,1% da vegetação nativa do Brasil correspondeu a formações secundárias em regeneração, o que equivale a 34,5 milhões de hectares. Na Amazônia, esse percentual é de 2%, ou 6,9 milhões de hectares, com recuperação concentrada em áreas anteriormente desmatadas.
Isso significa que, mesmo em meio à pressão crescente, existem processos naturais e iniciativas de restauração capazes de devolver parte da cobertura vegetal, contribuindo para a recomposição de habitats e para a redução de emissões associadas à mudança do uso da terra.
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