Pesquisas da Embrapa Amazônia Oriental, no Pará, em parceria com o The Good Food Institute (GFI) Brasil, desenvolveram novos ingredientes de alto valor proteico a partir da castanha-do-pará. A tecnologia utiliza subprodutos da castanha para criar uma farinha e um concentrado proteico que são promissores substitutos da carne no mercado de produtos vegetais.
Com a remoção do óleo, o teor de proteína da castanha salta de 15% para 32,4% na farinha. Em comparação, essa farinha de castanha tem cerca de 60% mais proteína do que a farinha de trigo. A partir daí, os pesquisadores obtiveram um concentrado de proteína com até 56% de proteína.
“A busca por maior diversidade de fontes proteicas nacionais tem estimulado pesquisas externas à exploração sustentável da biodiversidade brasileira. Além de contribuir para o aproveitamento de recursos naturais e a geração de emprego e renda, essas iniciativas buscam novos ingredientes para a indústria alimentícia”, afirma Ana Vânia Carvalho , pesquisadora da Embrapa.
A chave da inovação está em utilizar a “torta” – o resíduo que sobra após a remoção parcial do óleo da castanha, que é usado principalmente pela indústria cosmética. Essa torta, que antes era vista como um subproduto, é a base dos novos ingredientes. A pesquisa também aproveitou castanhas quebradas ou fora do padrão, reduzindo o desperdício.
Segundo Ana Vânia, a castanha-do-pará “é um símbolo da sociobiodiversidade amazônica e surge como alternativa nacional de alto valor agregado”.
Hambúrguer e quibe aprovados no teste
Os novos ingredientes foram testados no Laboratório de Agroindústria da Embrapa e aplicados na formulação de quibes, hambúrgueres e proteína texturizada (uma mistura de castanha e soja).
Na Embrapa Agroindústria de Alimentos, no Rio de Janeiro, o quibe e o hambúrguer vegetais foram desenvolvidos com características sensoriais (sabor, textura e aparência) semelhantes às suas versões de origem animal. Janice Lima, pesquisadora da Embrapa, explica que a tecnologia permite transformar um coproduto da castanha-do-pará em um alimento para consumo direto, focado em públicos vegetarianos, veganos e flexitarianos.
Os produtos finais também são ricos em nutrientes. O quibe, por exemplo, é considerado um produto de alto conteúdo de fibras, de acordo com a Anvisa. Além disso, a castanha é abundante em selênio e aminoácidos essenciais.
Consumidores que testaram os análogos vegetais (quibe e hambúrguer) deram boa avaliação, indicando o potencial comercial da tecnologia, que já está pronta para ser testada em escala comercial.


