Tereza Coelho
O que é necessário para desenvolver uma agropecuária mais sustentável? O tema é um dos tópicos abordados no Diálogos Boi na Linha, realizado em Brasília nesta quarta-feira (22), ao debater as políticas públicas necessárias para a transição sustentável do setor.
Além de reunir agentes ligados ao meio ambiente, setor produtivo, comercial e jurídico, o evento também apresenta ‘modelos de sucesso’, destacando personalidades que conseguiram desenvolver sistemas e práticas sustentáveis em seus biomas.
Um deles é Mauro Lúcio Costa, proprietário da fazenda Marupiara, em Paragominas, que mostra de forma prática, há 27 anos, que é possível conciliar produtividade, preservação e lucro. No último ano, a produtividade da Marupiara superou em mais de seis vezes a média nacional, chegando a 969 quilos de carne por hectare.
Em entrevista ao Pará Terra Boa, Costa celebra o reconhecimento, mas reforça a necessidade e a urgência das boas práticas chegarem ao maior número possível de produtores.
“A gente está aqui para ajudar essa realidade – implementação de práticas sustentáveis – a ser o novo normal. Não querermos ser vistos sempre como ‘o diferente’, mas virar um ponto de referência para que o pecuarista, de qualquer porte, saiba que investir na floresta e no pasto é possível e é lucrativo”, diz Mauro Lúcio Costa.
Filho e neto de pecuaristas, Mauro pontua que existe resistência, em parte do setor, para adotar técnicas de manejo sustentáveis e de baixo impacto ambiental, mas reafirma a necessidade de manter o diálogo, seja pela educação, pesquisa ou prática cotidiana.
“A gente precisa entender que, para muitos produtores, pecuaristas, aquilo é o legado da vida inteira. Eu praticamente nasci no pasto, tentei me afastar quando era mais jovem e voltei. Com esses 60 anos de experiência, posso dizer que o importante é deixar o caminho livre para conversar. Alguns vão entender, pensando na preservação, outros na saúde dos animais, mas sempre têm aqueles que só vão entender a importância quando virem que o fazendeiro do lado mudou seus processos e está se dando bem”, conta.
Para fortalecer as pontes entre o setor produtivo e ambiental, o pecuarista defende o esforço coletivo, que vai do produtor ‘abrindo a cabeça’ até os institutos e bancos, ligados ao crédito rural, ‘calçarem as botinas’ e irem ao campo e ao pasto ver pessoalmente a realidade do setor.
“O produtor precisa saber que existem outras alternativas de manejo que vão cuidar melhor do meio ambiente e aumentar o lucro, mas para isso todos precisam arregaçar as mangas de algum jeito. O produtor precisa abrir a cabeça e ter consciência de que têm coisas que ele aprendeu com o pai ou o avô, que precisam ser atualizadas. Mas os outros setores também precisam se empenhar em fazer esse conhecimento chegar ao produtor, porque nem sempre ele sabe que dá pra fazer diferente, especialmente os menores”, diz.
Para ele, eventos como o Diálogos Boi na Linha precisam continuar existindo e se multiplicando, para levar mais conhecimento para quem vive imerso na própria produção.
“Esses espaços reúnem tudo o que o produtor precisa: quem entende da pesquisa, do manejo, e quem pode ajudar ele financeiramente a começar essa mudança. O caminho fica mais fácil quando o produtor entende que não está sozinho”, enfatiza.