Por Tereza Coelho
Faltando 20 dias para o início da COP30 em Belém, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) lançou nesta terça-feira (21), o Beef on Track (BoT) – primeiro sistema de certificação no mundo a identificar e valorizar a carne livre de desmatamento.
O lançamento, feito durante o encontro Perspectivas para o Comércio Sino-Brasileiro Sustentável de Carne Bovina, em Brasília, reuniu especialistas de mercado, poder público, setor financeiro, organizações da sociedade civil do Brasil e representantes da China. O país asiático é responsável por quase 50% das exportações brasileiras de carne e parceiro primário da iniciativa.
Ao permitir o rápido reconhecimento da carne livre de desmatamento por varejistas, importadores e consumidores finais, o selo será um facilitador para abrir portas para mercados exigentes, como a União Europeia (com a Lei Antidesmatamento, que entra em vigor em 2026), o Reino Unido, além da China.
Com quatro níveis de certificação, o BoT vai analisar informações da cadeia da pecuária de corte, para certificar a ausência de desmatamento ilegal e de produção de gado em áreas sob embargo ou em terras indígenas, unidades de conservação e territórios quilombolas.
Já para os níveis mais elevados, será preciso comprovar desmatamento zero, além de cumprir a exigência de que a cadeia não faça parte de listagens de trabalho análogo à escravidão.
Os produtos certificados receberão um selo aplicado diretamente nos cortes de carne, dando também ao consumidor final mais confiabilidade ao que encontra na gôndola do supermercado.
O ponto de partida são os Protocolos de Monitoramento para Fornecedores de Gado na Amazônia e no Cerrado. Juntas, as duas regiões possuem 99 frigoríficos exportadores com potencial de participação.
Para desenvolvimento do projeto piloto, o Brasil receberá uma missão chinesa em dezembro de 2025 para firmar parcerias, e, ao longo de 2026, vai desenvolver seu sistema de certificação e outros detalhes estruturais, assim como o sistema de auditoria do BoT.
Para Marina Piatto, diretora executiva do Imaflora, a ideia é que toda carne produzida no Brasil possa ser ‘pelo menos’ nível bronze.

“É um esforço coletivo de muitos anos, alinhado com a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira, que possui a meta de reduzir o desmatamento e as emissões geradas pela agropecuária”, diz.
Valorização do pasto à mesa
Raul Protázio Romão, secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará, destacou a experiência local no cadastro sanitário de bovinos e bubalinos para impulsionar o Sistema de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará (SRBIPA), que fez a primeira exportação de carne bovina com rastreabilidade individual da Amazônia neste mês.
“A gente precisa que esse produtor, que se empenha em ser mais sustentável e em diminuir o impacto ambiental da sua atividade, seja valorizado e não corra o risco de ser visto como ilegal. Além de uma demanda internacional, precisamos fazer isso pelos nossos produtores e pelo nosso meio ambiente”, diz Raul Protázio.
Livia Zhao, da China Meat Association, reforça o crescimento do consumo de carne bovina entre o público chinês, mas reconhece a necessidade de aumentar a oferta usando todas as estratégias aplicáveis para preservar o meio ambiente.
“Nosso consumo saltou de 7 para 200 mil toneladas ao ano. Estamos incentivando a população a consumir mais carne bovina pelos seus benefícios ao organismo, mas sabemos que precisamos proteger o bem-estar do animal e do pasto, do local onde esses animais são criados”, comenta Lívia Zhao.
Lívia cita ainda a confiança do mercado chinês no Brasil por oferecer produtos de qualidade e por possuir iniciativas para reduzir os impactos da atividade pecuária, revelando um alinhamento de propósito.
“Além de boa qualidade, sabemos que o Brasil está trabalhando com afinco para produzir uma carne mais sustentável’, frisa.
Como fazer parte dessa nova fase?
O encontro em Brasília abordou ainda as necessidades dos produtores em receber apoio para iniciar a implementação de políticas mais sustentáveis.
O coordenador-geral de Produção Animal do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), Bruno Leite, aponta que o Brasil é um país confiável para ajudar outros países, como a China, a garantir segurança alimentar, mas que a participação do campo e produtores começa com a regularização.
“Começa do princípio com o Cadastro Ambiental Rural (CAR), e alinhamento entre municípios e estados. O Governo Federal está investindo no Programa Agro Brasil + Sustentável, mas tudo começa com a regularização porque com ela o produtor pode receber incentivos e ser beneficiado por esses projetos”, destaca.