A pecuária paraense deu um passo importante em direção à sustentabilidade com a realização do evento “Pecuária Sustentável e Treinamento Prático em Operador/a da Rastreabilidade”. O encontro ocorreu nos dias 30 e 31 de julho, no município de Salvaterra, na Ilha do Marajó.
A formação teve como foco o Programa Pecuária Sustentável do Pará e o SRBIPA (Sistema de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará), apresentado por técnicos da Adepará, da SEAF (Secretaria de Estado de Agricultura Familiar) e do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
O objetivo foi ampliar a compreensão sobre o sistema oficial de rastreabilidade, os critérios de cadastramento e o papel estratégico da rastreabilidade para a valorização da produção familiar.
O papel estratégico da rastreabilidade
Edivan Carvalho, coordenador do IPAM no Pará, ressaltou que a iniciativa é crucial para profissionalizar os operadores de rastreabilidade, que terão um papel decisivo na consolidação do programa.
“Eventos como esses são fundamentais não só para engajar os criadores de gado, mas também para profissionalizar os operadores da rastreabilidade, que terão um papel decisivo na consolidação do Programa de Pecuária Sustentável no Pará. O IPAM segue comprometido com esse processo, contribuindo com nossa experiência e apoiando na expansão do conhecimento sobre o programa para criadores de bovinos e bubalinos em todo o estado”, explicou Edivan Carvalho, Coordenador do IPAM no Pará.
Cássio Pereira, secretário de Estado da Agricultura Familiar, destacou a rastreabilidade como ferramenta essencial para a sustentabilidade na pecuária.
“Temos criar oportunidades para fortalecer práticas sustentáveis nesta cadeia. É uma tarefa desafiadora, pois temos 144 mil criadores(as) no estado – e esse número pode aumentar com a atualização cadastral em andamento. No Pará, cerca de 50% a 60% dos criadores(as) de bovídeos são agricultores e agricultoras familiares, e é essencial envolvê-los nas ações do programa”, afirmou.
Treinamento teórico e prático
O primeiro dia do evento contou com palestras técnicas sobre o SRBIPA, abordando o processo de cadastro e os benefícios para a agricultura familiar. John Robert, da Gerência de Rastreabilidade e Cadastro Agropecuário (GRCA), explicou que a rastreabilidade “transforma o saber do campo em dado oficial, dá visibilidade, combate o roubo e ajuda a profissionalizar” a pecuária na região.
“A criação de búfalos no Marajó é um modo de vida herdado há gerações. Mas, sem organização, o prejuízo fica com o produtor. A rastreabilidade vem para mudar isso: transforma o saber do campo em dado oficial, dá visibilidade, combate o roubo e ajuda a profissionalizar uma atividade essencial para a cultura e a economia da região”, afirmou Olivar Valente, gerente regional em exercício da Adepará em Soure.
Já no segundo dia, a programação incluiu uma atividade prática em uma propriedade rural, onde 35 agricultores foram certificados pela Adepará como operadores aptos a cadastrar rebanhos no sistema estadual. Joelcio Fernandes, o proprietário do sítio, compartilhou sua experiência, destacando que a rastreabilidade valoriza o produto e reconhece o trabalho no campo.
“No começo, era o boi que criava o fazendeiro, não o fazendeiro que criava o boi. Mas hoje eu vejo diferente: a gente precisa cuidar, dar comida certa, conhecer o capim, pensar na saúde do animal. Isso muda tudo”, disse ele.
O agrixultor afirmou que, com apoio do Senar e da Embrapa, ele aprendeu que dá pra produzir melhor e respeitar o que o búfalo precisa, e isso começa pela terra, pela água e pelo manejo consciente.
“A rastreabilidade chegou pra somar. Eu já colocava brinco no gado, mas agora vai ter registro, número, histórico, tudo certinho. Isso dá valor pro nosso produto, mostra que o leite, a carne, o queijo marajoara têm qualidade e têm origem. É segurança pra quem compra e reconhecimento pelo nosso trabalho aqui no campo”, contou o agricultor.
A iniciativa visa valorizar o trabalho dos produtores e a qualidade de seus produtos, como o queijo marajoara, um pilar da economia familiar e da identidade cultural da região. Luan Carlos Moraes Costa, um jovem produtor rural, compartilhou sua visão, enfatizando que a rastreabilidade é uma forma de “entender o animal e produzir com consciência”.
“Cresci vendo meus pais criando no modo tradicional, mas aprendi que dá pra fazer diferente, com mais respeito aos animais e ao meio ambiente. A rastreabilidade abriu meus olhos: não é só criar por criar, é entender o animal e produzir com consciência. Minha área é pequena, mas a vontade é grande. Planto, crio, reaproveito o que a terra dá e ensino isso pras minhas filhas. Quero produzir com orgulho e sem agredir o lugar de onde eu venho”, disse Luan Carlos Moraes Costa, jovem produtor rural de Cachoeira do Arari (PA).
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