A Amazônia esconde um tesouro de proporções colossais: 55 milhões de árvores gigantes, com mais de 60 metros de altura. Liderado pela Ueap (Universidade do Estado do Amapá), um estudo aponta que, embora esse número represente apenas 0,001% da flora total do bioma, esses espécimes são a chave mestra para o equilíbrio da floresta e para a biodiversidade local.
O artigo, intitulado “Mapping the density of giant trees in the Amazon”, foi destaque na prestigiada revista britânica New Phytologist.
O mapeamento das gigantes foi um feito de tecnologia: cientistas utilizaram o sensoriamento remoto por LiDAR (Light Detection and Ranging) para modelar a densidade das árvores. Dados coletados entre 2016 e 2018 cobriram 900 áreas da floresta, cada uma com cerca de 3,75 km².
Para traçar um mapa de alta precisão, os pesquisadores integraram as medições do LiDAR com 16 variáveis ambientais — incluindo clima, relevo, solo e até a incidência de raios e ventos. A combinação desses dados alimentou um modelo de floresta aleatória (Random Forest) baseado em inteligência artificial.
O resultado surpreendeu: a distribuição das árvores gigantes é extremamente desigual. Cerca de 14% delas estão concentradas em apenas 1% da Amazônia.
Os estados de Roraima e Amapá, localizados no Escudo das Guianas, se destacam com a maior densidade. A explicação está na combinação de condições ideais: muita água disponível e baixa ocorrência de distúrbios naturais, como ventos fortes e raios.
Guardiãs de carbono e potencial de conservação
Para Robson Lima Borges, pesquisador da Ueap, o estudo oferece um insight fundamental: poucas árvores grandes podem impactar diretamente os maiores estoques de biomassa e carbono acima do solo. Em outras palavras, essas árvores são peças-chave no combate às mudanças climáticas.
O artigo coloca o Amapá como um território com o maior potencial de conservação da floresta por abrigar grande cobertura vegetal e registrar baixa taxa de desmatamento. Fatores como temperatura amena, boa luminosidade e solo com excelente retenção hídrica complementam o ambiente ideal para a manutenção das gigantes.
Além da Ueap, o Ifap (Instituto Federal do Amapá) também participou ativamente da pesquisa.
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