As tecnologias conhecidas como poupa-terra, que englobam soluções como o plantio direto, o uso de bioinsumos e os sistemas integrados, já evitaram a abertura de 71 milhões de hectares para a produção de soja no Brasil nas últimas seis décadas e tornaram-se uma das principais respostas do Brasil ao enfrentamento da crise climática. Isso porque elas evitam emissões associadas ao desmatamento e garantem uso eficiente da terra.
O mapeamento do Instituto Arapyaú e do Instituto Itaúsa – Soluções em Clima e Natureza do Brasil, com base nas análises de 66 especialistas, mostra como o agro brasileiro vem atuando e como pode ampliar sua contribuição na descarbonização da economia, especialmente com o engajamento do setor privado.
A lógica das estratégias poupa-terra é simples: aumentar a produção sem avançar sobre novas áreas. E, de acordo com o mapeamento, o setor privado brasileiro já está engajado nessa transição. É o caso do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que para a safra 2025/26 lançou um pacote que envolve melhoramento genético e biotecnologia, com movimentação de R$ 60 bilhões nos próximos 15 anos.
A diretora-executiva do Instituto Arapyaú, Renata Piazzon, explica que:
“O Brasil tem todas as condições para ser parte da liderança de uma nova economia regenerativa, inclusiva, de baixo carbono e orientada para o futuro. E o setor privado está preparado para responder aos desafios climáticos, com produtos, investimento e serviços já implementados.”
COP30: Brasil se apresentou como provedor de soluções
Durante a COP30, em Belém, o Brasil se apresentou como um grande provedor de soluções climáticas, mostrando que o país reúne condições únicas para liderar uma nova economia de baixo carbono, não apenas por sua biodiversidade e matriz energética limpa, mas também por estas práticas agrícolas já consolidadas e em expansão.
A técnica, implantada inicialmente nos anos 1970, substitui a aragem tradicional, o que possibilita reduzir a emissão de carbono do solo, melhorar a retenção de água e aumentar a matéria orgânica.
Esse sistema também permite o plantio sucessivo de culturas na mesma área, o que explica o desempenho brasileiro no indicador de frequência de uso do solo, 30% superior à média global, segundo dados da FAO.
O uso crescente de bioinsumos é outro pilar das tecnologias poupa-terra, e tem como base a biodiversidade tropical. Segundo o Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCarbon), o Brasil é um líder global, tanto no uso de biofertilizantes quanto de defensivos biológicos, movimentando R$ 5 bilhões por ano, com um crescimento de 148% na aplicação em apenas um ano.
São mais de 600 produtos registrados que, além de reduzir a dependência de fertilizantes importados, minimizam emissões de óxido nitroso, gás de efeito estufa com potencial de aquecimento quase 300 vezes maior que o CO₂.
Sistemas integrados com estratégia
O mapeamento também cita os sistemas integrados, como a integração lavoura-pecuária (ILP) e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), como estratégia para permitir a produção simultânea de grãos, carne e madeira na mesma área. O Brasil já soma entre 15 milhões e 17,4 milhões de hectares com esses sistemas, que sequestram cerca de 30 milhões de toneladas de carbono por ano, apontam os dados da Rede ILPF.
Marelo Furtado, diretor-executivo do Instituto Itaúsa, avalia que:
“Quando o mundo busca com urgência referências para enfrentar a crise climática, o Brasil pode demonstrar ser um grande provedor de soluções. Por isso, estamos apoiando esta iniciativa para identificar e compartilhar exemplos escaláveis de soluções climáticas.”
De acordo com os especialistas, o próximo passo será melhorar os instrumentos de financiamento, permitindo que os produtores que investem nessas tecnologias sejam reconhecidos e remunerados pelos serviços ambientais que geram captura de carbono e de proteção da biodiversidade.
LEIA MAIS
Sistema ILPF é recomendado para enfrentar ondas de calor no campo
Sistema ILPF garante produção rural sustentável e com mais rentabilidade
Plantio direto de mandioca traz economia de tempo e de dinheiro


