Conhecidos como SAFs, os sistemas agroflorestais são uma importante estratégia de combate às mudanças climáticas e um exemplo de resiliência ambiental. Mesmo na Amazônia, um bioma rico em biodiversidade, os SAFs desempenham um papel crucial, contribuindo para o sequestro de carbono e a sustentabilidade, ao mesmo tempo que geram renda para agricultores familiares.
Esta é a conclusão da pesquisa realizada pela pesquisadora e professora da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Daniela Pauletto.
“Os SAFs são sistemas de cultivo que combinam espécies florestais e agrícolas, podendo também incluir animais. Esse tipo de cultivo tem conhecimento na ancestralidade e atualmente se mostra como uma grande alternativa para diversificação da produção e manutenção dos serviços ambientais”, afirma a pesquisadora.
A pesquisa abrangeu sete municípios no oeste paraense (Santarém, Belterra, Mojuí dos Campos, Rurópolis, Novo Progresso, Alenquer e Monte Alegre), totalizando 68 propriedades visitadas e 75 SAFs analisados. O estudo investigou a composição, a riqueza, a dinâmica e os fatores socioambientais que influenciam a implantação desses sistemas. Os resultados mostraram uma alta diversidade de espécies alimentares e florestais, com predominância de frutíferas e grande variabilidade na estrutura e manejo.
A cientista buscou entender as escolhas e as combinações de espécies feitas pelos agricultores. Segundo ela, o componente frutífero é o que mais atrai esse público.
“O público que adere aos sistemas agroflorestais – agricultores familiares, extrativistas, quilombolas – tem realmente mais afinidade com a produção de frutos”, afirma.
Na prática, os SAFs na região não são desenhados para a produção de madeira, como na teoria clássica da engenharia florestal, mas sim como SAFs frutíferos.
“O nosso componente árvore ou arbusto ou palmeira é para fruta”, explica a professora.
O cumaru como propulsor econômico
A pesquisa revelou que a maioria das propriedades está expandindo suas áreas de SAFs com espécies que dão maior lucro, como o cumaru (Dipteryx odorata). Essa expansão, no entanto, não compete com as áreas de cultivos tradicionais, como o plantio de mandioca ou feijão, que garantem a segurança alimentar da família. Os agricultores optam por ampliar as áreas de SAFs sem abandonar suas culturas tradicionais.
O crescente interesse pelo cumaru se dá pela expansão do mercado de sementes e pela rapidez com que a planta começa a produzir.
“Com dois anos e meio, ela já começa a ter produção de frutos”, explica a pesquisadora. A renda gerada pelo cumaru permite aos agricultores investirem em espécies mais exigentes, como o cacau e o cupuaçu, que requerem mais manejo.
Quintais agroflorestais: laboratórios naturais
A tese também destaca a importância dos quintais agroflorestais, que servem como locais de experimentação e ensaios antes da implantação de iniciativas florestais maiores. A pesquisa aponta que a estrutura dos quintais é mais estável e diversa, com espécies medicinais e alimentares.
“A gente percebe uma estrutura muito mais estável nos quintais. Independente da pessoa ter ou não outros sistemas agroflorestais no seu contexto agrário, é muito difícil uma residência rural não ter um quintal agroflorestal”, afirma a pesquisadora.

Daniela Pauletto observa que o quintal é a área onde o agricultor faz os primeiros testes com uma muda que ganhou ou com uma espécie nova que não conhece. Além de sua função produtiva, os quintais são utilizados como espaços sociais, como locais de encontro e descanso, onde as árvores fornecem suporte ambiental e ecossistêmico.
COP30
Discussões socioambientais e pesquisas que envolvem as mudanças climáticas estarão na programação do encontro Pré-COP 30 da Ufopa, que ocorrerá nos dias 28 e 29 de agosto, em Santarém (PA). Saiba mais no site oficial do evento: https://sigeventos.ufopa.edu.br/evento/ufopaprecop30/principal/view