O Plano Setorial de Indústria e Mineração, parte integrante da estratégia nacional do Plano Clima traça metas e orientações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa em dois dos setores mais relevantes para a economia brasileira, também entre os mais poluentes.
Com a COP30 em Belém, a discussão ganha peso simbólico e estratégico. A capital paraense, localizada no coração da Amazônia, se prepara para apresentar ao mundo iniciativas que conciliem crescimento econômico, conservação ambiental e justiça social. Nesse contexto, o plano propõe caminhos para tornar a produção industrial e mineral mais eficiente, limpa e alinhada aos compromissos climáticos do país.
O Pará, um dos maiores polos de mineração do Brasil, carrega em seu território os contrastes entre a riqueza gerada pela exploração mineral e os impactos ambientais e sociais deixados por essa atividade. O setor é estratégico para a economia nacional, com destaque para a extração de ferro, bauxita, cobre e manganês, mas impõe um custo elevado à biodiversidade amazônica e às populações que vivem no entorno das operações.
Transformar sem travar o desenvolvimento
O plano propõe ações para modernizar processos industriais, incentivar tecnologias mais limpas, ampliar a eficiência energética e promover o uso de matérias-primas com menor pegada ambiental. Na mineração, o foco está em práticas de extração mais sustentáveis, recuperação de áreas degradadas, rastreabilidade e valorização de cadeias produtivas locais.
Em estados como o Pará, o desafio é encontrar caminhos que permitam reduzir impactos ambientais sem comprometer o emprego, a arrecadação e a competitividade. Para isso, o plano prevê incentivos à inovação, à circularidade e à transição energética nas plantas industriais, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste.
“A indústria e o setor mineral paraense vêm respondendo ativamente ao chamado do Plano Clima, especialmente no que tange à descarbonização das cadeias produtivas e à promoção de soluções alinhadas à sociobieconomia. Há um esforço concreto de adaptação às diretrizes setoriais, com destaque para a verticalização da produção, substituição de insumos de alta emissão por alternativas mais limpas, adoção de tecnologias de rastreabilidade e incentivo ao uso de fontes energéticas renováveis”, destaca o presidente do Sistema FIEPA, Alex Carvalho.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o objetivo é garantir que o Brasil seja capaz de atender às exigências dos mercados internacionais, que caminham para uma economia de baixo carbono, sem perder espaço na cadeia global de valor.
Novo modelo de desenvolvimento
Belém do Pará, sede da COP30, representa um território emblemático nessa transição. Além de abrigar setores industriais e minerais relevantes, a cidade carrega o desafio de sediar um evento global sobre clima em meio à floresta, sendo pressionada a mostrar soluções práticas e replicáveis.
Com a COP30, o Pará ganha visibilidade internacional e tem a chance de apresentar modelos inovadores que integrem desenvolvimento industrial com conservação ambiental, como cadeias de bioeconomia, mineração com recuperação florestal e novas tecnologias verdes aplicadas à indústria extrativa.
“A COP30 tem sido transformador para o setor produtivo paraense. Desde o anúncio de sua realização em Belém, a indústria local passou a intensificar debates, articulações e projetos estruturantes, por meio da Jornada COP+, iniciativa coordenada pela FIEPA. Essa mobilização busca desenvolver uma nova mentalidade industrial, focada em inovação, sociobioeconomia e sustentabilidade”, afirma Alex.
Empresas instaladas no estado já começam a se adaptar às novas exigências, buscando alinhar suas práticas ao Plano Clima e às pressões do mercado por transparência e responsabilidade ambiental. Iniciativas em curso na região incluem o uso de energia limpa em operações industriais, reuso de resíduos e investimentos em processos menos intensivos em carbono. Em meio aos avanços na região Norte, ainda há muitos desafios a serem enfrentados pelo setor.
“Apesar dos avanços, o setor industrial ainda enfrenta desafios significativos para cumprir as metas do Plano Clima. Há limitações no estado, por exemplo, em infraestrutura de logística, com gargalos em rodovias, portos e transporte multimodal que dificultam o escoamento da produção e elevam os custos”, ressalta.
Impactos e desafios ambientais
Entre os principais impactos da mineração ni Pará estão o desmatamento para abertura de minas e construção de infraestrutura, a degradação do solo, o uso intensivo de recursos hídricos e a poluição de rios por metais pesados e rejeitos de mineração. A contaminação de comunidades ribeirinhas e o deslocamento de populações tradicionais também figuram entre os efeitos mais graves e persistentes. Além disso, o setor é responsável por expressivas emissões de gases de efeito estufa, agravando a crise climática.
Diante desse cenário, a indústria mineral e os governos enfrentam o desafio de reduzir os danos ambientais e promover uma transição para práticas mais sustentáveis. Isso inclui a adoção de tecnologias limpas, reuso de água nos processos, recuperação de áreas degradadas, transparência nas operações e maior diálogo com as comunidades locais. A proximidade da COP30 coloca o estado no centro do debate global sobre clima e desenvolvimento, pressionando o setor a apresentar soluções que conciliem produção, conservação e justiça socioambiental na Amazônia.
Indústria e mineração no centro da discussão climática
O Plano Setorial de Indústria e Mineração faz parte do esforço brasileiro para apresentar resultados concretos na COP30, reforçando que setores produtivos podem e devem ser protagonistas da solução climática. Com metas até 2050, o plano inclui indicadores de monitoramento, instrumentos de financiamento e mecanismos de incentivo para acelerar a transição nos setores.
“A COP30 pode ser um catalisador poderoso para superar esses obstáculos. Ela traz visibilidade internacional, atrai investidores e facilita cooperações técnicas que aceleram a transição energética. A expectativa é que a COP30 deixe um legado institucional, econômico e ambiental duradouro para a região”, finaliza o presidente do Sistema FIEPA.
Ao colocar Belém no centro das discussões, o Brasil mostra que é possível pensar um novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia, onde a indústria não apenas extrai, mas também regenera, emprega e inova, respeitando os limites do planeta.
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