O governo brasileiro, que planeja detonar rochas em um trecho do Rio Tocantins, que liga os estados do Pará e do Tocantins, com a justificativa de facilitar o transporte fluvial na região, enfrenta a oposição de pescadores e indígenas locais. A aldeia Tauiry, em Marabá, lidera o protesto contra o chamado derrocamento na área conhecida como Pedral do Lourenção. A obra teve licenciamento suspenso na Justiça por uma ação do Ministério Público.
Segundo o governo brasileiro, a hidrovia do rio Tocantins se estende por mais de 1.700 quilômetros, mas possui sua capacidade reduzida no trecho do pedral, de aproximadamente 40 quilômetros.
O pedral beneficia cerca de 6.500 pescadores da região, que nesta época do ano aproveitam a tranquilidade da água para a prática da pesca entre as rochas. Para eles, a intervenção é uma ameaça à biodiversidade.
Em entrevista à agência espanhola EFE, o pescador Ernandes Soares, de 52 anos, uma das lideranças Tauiry, denuncia a devastação que o derrocamento do pedral significa para a comunidade.
“Enquanto o desenvolvimento acontece, nós, pescadores que vivemos na beira e dependemos do rio, perecemos… Se tirarem as pedras, não vamos mais poder pescar aqui”, diz.
Na prática, o ato de detonar as rochas na área de 40 km também exige dragar a areia do leito do Tocantins para abrir um canal navegável de 100 metros de largura, simbolizando risco potencial para a biodiversidade na área.
No final de 2024, uma dragagem para viabilizar a ancoragem de cruzeiros para a COP30 foi cancelada em Belém, devido aos riscos. Uma das justificativas era a ameaça à biodiversidade da Baía do Marajó, que receberia os resíduos.
Alegações
A União e o governo do Pará alegam que a derrocada do pedral é fundamental para escoar a produção nacional de grãos. A safra de 2025 bateu um recorde histórico chegando a 350 milhões de toneladas. Segundo o governo paraense, a hidrovia Tocantins-Araguaia poderá transportar de 20 a 60 milhões de toneladas de carga por ano, retirando até 500 mil viagens de caminhão das rodovias. Em material divulgado em agosto deste ano, o governo local alega ainda que “além de aliviar estradas e reduzir acidentes, o modal hidroviário é até 20 vezes menos poluente que o transporte rodoviário e pode reduzir em até 30% os custos logísticos para produtores e exportadores”.
O biólogo Alberto Akama, do Museu Paraense Emílio Goeldi, alerta que a “alternativa sustentável”, no Rio Tocantins, terá um “impacto enorme” sobre o habitat de muitos peixes que vivem ali.
“Devido às hidrelétricas que existem rio abaixo, algumas espécies só se reproduzem neste trecho do Tocantins”, explica.