Um novo cálculo realizado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) expõe o déficit de ambição nas metais climáticas globais (as chamadas NDCs -Contribuições Nacionalmente Determinadas), reforçando que o mundo está a perigosos 27,9 gigatoneladas de gás carbônico equivalente de distância do necessário para impedir que a temperatura média global ultrapasse 1,5º C. Essa lacuna equivale a “34 vezes o desmatamento brasileiro em 2024”.
A pesquisadora Barbara Zimbres, do IPAM, explica que, das 197 NDCs esperadas, as 122 já apresentadas à UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) são insuficientes para conter o aquecimento.
“O problema maior é que as NDCs até agora apresentadas representam um aumento de ambição ínfimo em relação às NDCs anteriores, de apenas 3,4 gigatoneladas de gás carbônico equivalente, no total global. Como os maiores emissores já entregaram suas NDCs, não se espera uma grande mudança nesse quadro com a entrega das que ainda faltam.”
Zimbres aponta para um cenário de aquecimento perigoso, ecoando o alerta global do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).
“Não é por menos que o PNUMA, no Emissions Gap Report, considera a meta de 1,5°C enterrada. Com as NDCs até agora apresentadas, estamos no caminho para um mundo até 2,3 a 2,5°C mais quente no final do século. Para mudar esse cenário os países precisam aumentar a ambição”, pontua a pesquisadora.
Em relação ao Brasil, apesar de o desmatamento ser o maior contribuinte das emissões nacionais (42%), a pesquisadora Barbara Zimbres, do IPAM, alerta que o controle das florestas, embora seja o “maior trunfo do governo”, não será suficiente para o Brasil cumprir suas metas climáticas (NDC).
“Será necessário trabalhar pela rápida transição energética e pela redução das emissões do setor agropecuário, além de combater efetivamente a degradação dos biomas brasileiros”, relata.
“Fazer melhor coletivamente e cooperativamente”
Em resposta à falta de ambição demonstrada nas NDCs, os países signatários da COP30 se comprometeram com esforços para “fazer melhor coletivamente e cooperativamente”.
Para superar as lacunas de ambição e reforçar a cooperação, serão lançadas duas novas iniciativas cruciais: o “Acelerador Global de Implementação” e a “Missão Belém para 1,5”. Ambas têm o objetivo de manter a meta de 1,5 °C alcançável por meio de ações concretas e conjuntas.
Outro ponto importante da decisão foca no comércio internacional. O documento afirma que as medidas tomadas para combater as mudanças climáticas, incluindo ações unilaterais, “não devem constituir um meio de discriminação arbitrária ou injustificável, nem uma restrição disfarçada ao comércio internacional”.
A Presidência brasileira ressaltou que o sucesso da COP30 não se limita apenas aos acordos formais entre os países, mas também deve considerar a Agenda de Ação, marcada por dezenas de compromissos voluntários e anúncios importantes feitos durante a conferência.
Para Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM, a busca por maior comprometimento com a diminuição de emissões é uma questão de sobrevivência.
“O mundo precisa de mais ambição. Os países através dos seus esforços para redução das emissões dos gases de efeito estufa têm de ser mais ambiciosos. Porque, como estamos hoje, estamos perdendo o ‘habite-se’ do planeta. E ao perder esse ‘habite-se’ do planeta, certamente aqueles que têm menos é que sofrerão mais. Portanto, é uma questão também de justiça e de fundamental respeito ao direito de viver. É disso que estamos falando no final do dia. É preciso continuar garantindo o direito básico à vida de cada um que habita esse planeta”, expõe.


