A recuperação e o manejo eficiente de pastagens são cruciais para a construção de uma pecuária mais sustentável e rentável no Pará. Recentemente, 45 agricultores familiares de 12 municípios do nordeste do estado participaram de um Dia de Campo inovador em Paragominas e Irituia, focado em técnicas que prometem transformar a produção de gado, gerando renda e protegendo a floresta.
A iniciativa, promovida pelo IPAM, Seaf e Fetragri, teve como principal objetivo promover a troca de experiências e demonstrar que a melhoria das pastagens é um caminho viável para agregar valor e tornar a produção mais sustentável e justa.
“A agricultura familiar no Pará possui um rebanho expressivo de bovinos e, do ponto de vista social, é uma atividade de grande importância na região. No entanto, enfrenta desafios como a degradação das pastagens e as mudanças climáticas”, destaca Graciela Froehlich, pesquisadora do IPAM e uma das organizadoras.
Técnicas de manejo que transformam
Durante o treinamento, os agricultores aprenderam e discutiram estratégias que comprovam a importância do manejo de pastagens:
- Rotação de Pastagens: Essa técnica essencial consiste em subdividir o pasto e mover o rebanho entre diferentes piquetes a cada quatro dias. Isso garante que o capim tenha o tempo necessário para se recuperar, aumentando seu valor nutricional e a produtividade da área. O resultado é um alimento de melhor qualidade para o gado, a prevenção da abertura de novas áreas e o crescimento saudável do rebanho.
- Uso de Cercas Elétricas: Uma alternativa de baixo custo, que além de reduzir significativamente os gastos com infraestrutura, facilita a gestão e a divisão do pasto para a rotação.
- Integração de Sistemas Agroflorestais: O plantio de árvores nativas nas pastagens não apenas oferece sombra para o gado, melhorando seu bem-estar, mas também pode servir de suporte para as cercas e gerar renda extra para os produtores.
A agricultora Francisca Roseane Silva da Fonseca, presidente do STTR de Santa Maria do Pará, é testemunha o impacto dessas práticas.
“Eu venho da agricultura familiar e ver que hoje um produtor pequeno consegue, com uma estrutura simples, fazer a rotação de pasto e ter um ótimo resultado na produção, me impressionou. Com pouco investimento, consigo aplicar tudo isso na minha propriedade e enxergar até onde podemos chegar. Trabalho com pecuária há 10 anos e já estava pensando em desistir, porque minha pastagem sempre estava ruim. Agora, com o que aprendi aqui, consigo me organizar e não vou mais vender minha terra.”
Qualidade de vida
Os participantes puderam conhecer na prática as técnicas discutidas, conversando com agricultores que já as aplicam, como Vicente Cirino, fundador do Ivisam. Ele implementou um sistema integrado de agrofloresta e pecuária em sua propriedade, onde também ministra cursos e oficinas de capacitação voltadas à agricultura familiar.
“Esse trabalho é importante porque fornece o conhecimento necessário para que o cidadão do campo não precise vender seu lote e ir para a cidade enfrentar dificuldades. A gente trabalha com a ideia de que é possível ter uma vida digna, feliz e confortável no campo, produzindo muito em pouco espaço, respeitando a natureza e sem abrir grandes áreas que acabam ficando subutilizadas”, afirma Cirino.
O Pará, com um rebanho de mais de 24 milhões de animais, enfrenta o desafio do desmatamento impulsionado pela baixa eficiência no uso das pastagens. Segundo dados da Seaf, cerca de 11 milhões de cabeças de gado estão em áreas com algum tipo de irregularidade ambiental.
Com 60% dos pecuaristas pertencendo à agricultura familiar, investir em manejo adequado de pastagens e assistência técnica é fundamental para que esses produtores adotem práticas mais sustentáveis, aumentem sua renda e contribuam para a conservação da Amazônia.