Um total de 960 km² foram desmatados na Amazônia em maio de 2025, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados nesta sexta-feira, 6. Esse número representa uma alta de 92% em relação ao mesmo período do ano passado, quando a devastação foi de 500 km². O ranking do desmate foi liderado pelo Mato Grosso, seguido pelo Pará que perdeu 145 km² de floresta, cerca de 5% a mais do que em maio de 2024.
O crescimento do desmatamento no bioma chamou a atenção do governo federal. O detalhamento dos casos feito pelo Inpe mostrou que, no mês passado, 48% da área foi desmatada com a retirada de vegetação para deixar o solo exposto. Já em 51% dos casos foi identificado desmatamento com vegetação, que ocorre em áreas com cicatrizes de queimadas que perderam sua capacidade de regeneração.
“Ele não é um desmatamento ocorrido em maio, é uma floresta incendiada a tal ponto que ela chega agora como uma floresta colapsada. O nosso foco historicamente foi o combate ao desmatamento, que é a remoção da cobertura florestal porque o índice de colapso de floresta por queimadas não era tão relevante como agora”, disse o ministro substituto do Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco, em coletiva à imprensa em Brasília (DF).
Os dados revelam que esse tipo de desmatamento se manteve em níveis estáveis representando, no máximo, 14% dos registros de devastação. Porém, em 2023 chegou a 32%, foi a 21% no ano passado e agora alcançou o pico de 51%.
“É uma realidade nova. De certa forma, tínhamos a expectativa de que a floresta úmida não seria vítima dessa realidade [climática de forma] tão grave como as florestas temperadas. No entanto, estamos assistindo uma situação dramática aqui no Brasil”, completou.
Em 2025, pela primeira vez desde que se tem registro, a proporção da vegetação destruída pelo fogo e que não conseguiu se recuperar, como costuma acontecer em florestas úmidas como a Amazônia, superou a área destruída pelo chamado corte raso (derrubada).

Outra preocupação é que as queimadas estão avançando não somente em regiões já abertas ou ocupadas pela agropecuária, mas atingindo principalmente áreas de vegetação nativa. De agosto de 2024 a maio de 2025, quase 56% da área queimada foi em áreas de vegetação primária ou secundária.
Um exemplo disso é visualizado no município de São Félix do Xingu, no sudeste paraense, onde o monitoramento mostra que a degradação não está concentrada só nas regiões de produção rural e alcança cada vez mais o que deveria estar preservado.

“Essa realidade que se coloca mostra que o esforço e a ação do governo, da sociedade e do setor privado no controle de incêndios se tornou uma prioridade. Sempre foi importante combatê-lo, mas ele adquire agora uma dimensão que supera o corte raso de floresta que era historicamente o nosso maior problema”, afirmou Capobianco.
Segundo a pasta, esse quadro só mudará com o avanço da articulação do governo federal com os municípios das áreas críticas.
Já o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, chama atenção para o fato de que, historicamente, quando a lei é aplicada, o desmatamento cai.
“Para o Ibama fiscalizar, porém, é necessário haver uma legislação que proteja o meio ambiente. É exatamente aí que entra o Congresso, que atua no sentido oposto, tentando acabar com a proteção ambiental, como vimos recentemente na aprovação do projeto de lei que desmonta o licenciamento ambiental, além de outras ameaças no chamado Pacote da Destruição”, avalia Astrini.