Com um “tesouro climático” escondido na sua vegetação e no seu solo, as florestas do Mosaico de Carajás, no sudeste paraense, são um verdadeiro cofre natural contra o aquecimento global. Um estudo revela que a área de 800 mil hectares armazena 600 milhões de toneladas de dióxido de carbono. É como se 140 milhões de carros -movidos a gasolina ficassem um ano inteiro fora de circulação.
Esses dados fazem parte do estudo “Inventário de emissões e remoções de carbono devido às mudanças de uso da terra”, conduzido por uma equipe multidisciplinar do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável (ITV DS), que incluiu engenheiros, biólogos e especialistas em computação.
O levantamento revela que cada hectare de floresta aberta na Floresta Nacional de Carajás pode armazenar até 1.100 toneladas de CO2. Apenas 1% das árvores concentra um terço de todo o carbono da vegetação, com destaque para espécies como a castanheira e a timborana, que chegam a 40 metros de altura.
A pesquisa também mostra o lado negativo da história. Em 36 anos, a bacia do rio Itacaiúnas, que cobre dez municípios do sul e sudeste do Pará (Água Azul do Norte, Canaã dos Carajás, Curionópolis, Eldorado dos Carajás, Marabá, Parauapebas, Piçarra, São Geraldo do Araguaia, Sapucaia e Xinguara) perdeu 40% de seus estoques de carbono devido ao desmatamento, liberando mais de 1,2 milhão de toneladas de CO2 na atmosfera.
Imagens de satélite indicam, porém, que as áreas que resistiram à devastação coincidem com zonas de proteção, como unidades de conservação e terras indígenas. Essas áreas protegidas, estabelecidas desde o Projeto Grande Carajás na década de 1980, ocupam menos de um terço da bacia, mas concentram mais da metade do carbono estocado.
Preservar e restaurar: uma urgência para o clima
O estudo do ITV DS ressalta que o estoque de carbono é apenas um dos muitos valores da floresta em pé. A preservação garante a conservação da biodiversidade, a proteção de recursos hídricos e a segurança contra desastres naturais. No campo econômico, a floresta impulsiona a bioeconomia, o ecoturismo e gera emprego e renda.
A pesquisadora Rosane Cavalcante, do ITV DS, explica que a pesquisa reforça a importância de manter as florestas intactas, mas também a urgência de recuperar ecossistemas degradados.
“A situação da bacia do Itacaiúnas funciona como um alerta para outras regiões da Amazônia que ainda enfrentam forte pressão de desmatamento.” Em outras palavras, cada hectare protegido ou recuperado representa um futuro mais resiliente para o bioma e para o planeta.