O desmatamento na Amazônia voltou a crescer no primeiro semestre de 2025. De acordo com dados do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os alertas de corte raso na floresta somaram 2.090,3 km² entre janeiro e junho, um aumento de 27% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 1.644,9 km². Os dados foram divulgados nesta sexta-feira, 11, e fazem parte do monitoramento por satélite realizado diariamente pelo Inpe para acompanhar a cobertura vegetal dos principais biomas brasileiros.
Em junho deste ano, os alertas de desmatamento na Amazônia somaram 457 km², o que representa uma leve queda de 0,8% em comparação com o mesmo mês de 2024. O número é o menor já registrado para junho desde o início da série histórica do Deter, em 2016.
Mato Grosso concentrou a maior parte do desmatamento, respondendo por 1.551,8 km², o que corresponde a mais da metade da área total perdida no bioma. Na sequência, Pará e Amazonas lideram como segundo e terceiro maiores responsáveis pelo desmate na Amazônia Legal em 2025, com 833,5 km² e 774,4 km², respectivamente.
O sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), tem como função principal emitir alertas de desmatamento para apoiar ações de fiscalização ambiental. Embora sirva como um indicativo precoce da devastação, o Deter não fornece os dados consolidados do desmate. As estatísticas oficiais são geradas pelo sistema Prodes, também do Inpe, que oferece informações mais precisas e é divulgado anualmente.
Alerta
Os números do primeiro semestre acendem um sinal de alerta para a Amazônia, que já vinham com sucessivas altas nos avisos de desmatamento identificadas pelo Deter nos meses de janeiro, abril e maio.
Para Ane Alencar, diretora de ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora das plataformas MapBiomas Cerrado e MapBiomas Fogo, é preciso um olhar atento sobre o tipo de desmate registrado este ano.
O maior salto, computado em maio, ocorreu na categoria “desmatamento com vegetação”, um indicativo claro de áreas atingidas por incêndios muito intensos.
“Qualquer aumento do Deter é preocupante, mas esse aumento foi impulsionado por esse tipo de perda de cobertura vegetal: um desmatamento progressivo feito por incêndios muito intensos”, explicou Alencar à Folha de S.Paulo.
Apesquisadora ressalta que essas áreas podem não ter sido detectadas anteriormente devido à alta cobertura de nuvens no início do ano, que dificulta a captação de imagens por satélite.
Ao descontar essa categoria específica de perda de vegetação por fogo, a cientista observa que o índice de desmatamento se mantém em um patamar semelhante ao de 2024. Isso sinaliza uma desaceleração da queda expressiva no desmate amazônico que vinha sendo registrada nos últimos dois anos.
Para Alencar, essa estabilização pode indicar um limite para as ações atuais do governo na redução do desmatamento.
“Isso pode indicar que talvez as ações do governo tenham atingido um teto na redução do desmatamento. Então, isso requer ações inovadoras para que consiga voltar ao mesmo padrão de queda”, opina.
Fundo Amazônia
No começo de junho, o presidente Lula anunciou a destinação de R$ 825,7 milhões do Fundo Amazônia para reforçar a fiscalização ambiental no combate ao desmatamento na região.
De acordo com o governo, os recursos serão investidos para ampliar a atuação do Estado na Amazônia e modernizar as ações contra o desmate ilegal, incluindo a aquisição de helicópteros e drones, além da implementação de novos sistemas de monitoramento ambiental e mecanismos para aplicação de sanções.
LEIA MAIS:
PF deflagra operação contra desmatamento ilegal em Santarém
Fundo Amazônia aprova R$ 1 bilhão no 1º semestre de 2025 e bate recorde