A atenção primária à saúde deu um salto tecnológico na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, em Santarém (PA). No último sábado (25), a comunidade de Anã inaugurou a sua UBS da Floresta, uma unidade equipada com tecnologia de ponta, adaptada aos desafios da Amazônia.
A nova unidade conta com um sistema de energia solar off-grid/híbrido e internet via satélite, garantindo que equipamentos vitais, como geladeiras para vacinas e eletrocardiógrafos digitais, funcionem sem interrupções. A iniciativa reforça a missão de levar o SUS para dentro da floresta, superando as dificuldades de logística e comunicação.
A entrega aconteceu durante o seminário “Saúde e Clima na Amazônia”, que reuniu cerca de 150 participantes, incluindo ribeirinhos, indígenas (Kayapó e Munduruku), pesquisadores e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
“O SUS está se preparando para as mudanças climáticas e para proteger a Amazônia, garantindo saúde, vida e dignidade para quem vive na floresta”, disse Padilha.
Saúde e clima: infraestrutura de cuidado
A agenda do seminário sublinhou a ligação direta entre a crise climática e a saúde. Líderes comunitários e especialistas debateram como a região enfrenta os impactos das secas e cheias extremas, a contaminação por mercúrio e a insegurança alimentar.
O ministro Alexandre Padilha, que já viveu e trabalhou na região, celebrou a nova unidade.
“A UBS da Floresta é um modelo construído com e para a comunidade. Estamos levando o SUS para dentro da floresta, respeitando os modos de vida e garantindo cuidado onde as pessoas vivem”, afirmou.
O projeto, coordenado pelo Projeto Saúde e Alegria (PSA) em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA), está investindo R$ 10 milhões, provenientes da Fundação Banco do Brasil, para estruturar 24 unidades de saúde em comunidades tradicionais, com foco em conectividade, capacitação e telemedicina.
Kleitton Morais, presidente da Fundação Banco do Brasil, enfatizou a importância de valorizar o conhecimento local:
“Quando escutamos a comunidade e valorizamos a cultura local, construímos um desenvolvimento que permanece”.
O conhecimento ancestral integrado ao SUS
Para os coordenadores do PSA, Caetano Scannavino e Eugênio Scannavino Netto, a UBS da Floresta é um modelo de saúde territorializada.
Eles destacam que infraestrutura como energia solar, comunicação e telemedicina é, na verdade, infraestrutura de cuidado necessária para que as comunidades enfrentem os desafios climáticos e as doenças. Eugênio Netto complementou: “Fazer saúde com os povos tradicionais é cuidar da Amazônia, e cuidar da Amazônia é cuidar do planeta. Por isso, trabalhamos para que essas comunidades sejam autônomas.”
A inovação na unidade de Anã também inclui a inauguração da Farmácia Viva, que integra o conhecimento das plantas medicinais aos saberes tradicionais. Durante a cerimônia, foi plantada uma muda de cipó-unha-de-Gato, uma das 18 espécies que a comunidade cultiva em parceria com a UFOPA para uso no SUS. O ato simbolizou a união entre a ciência moderna e a sabedoria ancestral na saúde paraense.


