Dez anos após o Acordo de Paris, assinado em 2015 para limitar o aumento da temperatura global, o mundo se vê diante de um cenário preocupante. Em vez de avançar, temos presenciado retrocessos significativos na luta contra o aquecimento global, um problema intimamente ligado à perda de florestas e da biodiversidade. Para reverter essa situação, a mensagem é clara: a ciência precisa ser o centro das atenções novamente. As informações são Agência Fapesp.
Essa análise foi feita por Bárbara Pompili, embaixadora do meio ambiente, durante a abertura do Fórum Brasil-França sobre Florestas, Biodiversidade e Sociedades Humanas, em Paris. O evento, organizado pela FAPESP e USP, faz parte da FAPESP Week França, uma iniciativa para promover a colaboração científica.
Pompili destacou que, mesmo após uma década do Acordo de Paris, ainda há quem duvide da responsabilidade humana nas mudanças climáticas ou da própria existência do problema.
Para ela, a importância de fóruns como este é inegável: “reúnem os principais atores sociais nos quais podemos nos apoiar, que são os cientistas. Nesse sentido, devemos continuar a trabalhar juntos, além de nossas fronteiras, para podermos entender melhor a magnitude desses problemas e nos prepararmos melhor para o futuro”, explicou.
Biodiversidade: A chave para soluções climáticas
Já a secretária nacional de biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Rita Mesquita, reforçou que as melhores soluções para enfrentar as mudanças climáticas são baseadas na natureza, especialmente na biodiversidade.
“Se quisermos ser capazes de enfrentar o aquecimento global, teremos de discutir biodiversidade no âmbito da mudança do clima e reconhecer que manter a natureza significa conservar a base de sustentação da vida na Terra”, pontuou.
Giles Bloch, diretor do MNHN, ressaltou a complexidade e a importância das florestas globais – de florestas tropicais a boreais – para a regulação do clima e como habitat de inúmeras espécies. Ele enfatizou a urgência da conservação diante das pressões humanas.
Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, destacou o papel fundamental do Brasil, com mais da metade de seu território coberto por florestas. Ele mencionou os esforços da FAPESP em programas de pesquisa sobre biodiversidade, mudanças climáticas e energias renováveis, citando o BIOTA-FAPESP, um programa de 25 anos que já financiou mais de 350 projetos.
“Estamos aqui para discutir, pensar juntos soluções para as questões das relações das florestas, da biodiversidade e de suas populações com a sociedade em geral”, disse Zago, reafirmando o apoio da FAPESP a pesquisas colaborativas com a França.
Amazônia: Um legado biocultural
A colaboração entre a FAPESP e a Agência Nacional de Pesquisa (ANR) da França foi elogiada por Claire Giry, presidente da ANR, como um exemplo de parceria que promove a excelência científica.
Odiretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (MAE-USP), Eduardo Neves, apresentou um fascinante panorama sobre a Amazônia. Ele explicou que pesquisas arqueológicas, muitas em parceria com a França, desmistificaram a ideia de que a floresta era inóspita no passado. Hoje, sabemos que a Amazônia é ocupada por povos indígenas há pelo menos 13 mil anos e que eles tiveram um papel crucial na formação da biodiversidade que conhecemos.
“Plantas que são consumidas no mundo inteiro foram cultivadas primeiro na Amazônia pelas populações indígenas. As cerâmicas mais antigas do Novo Mundo foram produzidas primeiro lá, e os povos indígenas modificaram a floresta, de modo que a floresta que conhecemos hoje não é só patrimônio ecológico, mas também biocultural”, revelou Neves. Ele reforçou que “não existe futuro para a floresta sem contemplar esses conhecimentos sofisticadíssimos que foram exercidos na promoção dessas paisagens”.