O futuro das exportações está vinculado à sustentabilidade e à rastreabilidade. O recado vem da China que, em maio, comprou o primeiro carregamento de carne bovina brasileira na história livre de desmatamentos legais recentes. As informações são do Globo Rural.
O ineditismo da operação, realizada entre a chinesa Cofco e a da MBRF (então Marfrig), reside na auditoria de toda a cadeia de fornecimento, incluindo fornecedores diretos e indiretos que atuam na cria e recria do gado. A empresa BDO realizou a verificação, atestando que a carne cumpria os critérios estabelecidos pelo protocolo Boi na Linha e por organizações de peso (WWF, TNC, WRI e Imaflora).
A verificação atestou que gado era proveniente de áreas no Cerrado não desmatadas após 2020 e, na Amazônia, não desmatadas após 2008. Além disso, o monitoramento geoespacial diário assegurou que os animais não ocuparam áreas com embargos ambientais, nem terras indígenas ou áreas protegidas.
“Este carregamento demonstra que é perfeitamente possível fornecer carne bovina DCF [sigla para ‘livre de desmatamento e conversão’] com verificação independente”, afirmou o diretor global de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da MBRF, Paulo Pianez, confirmando a viabilidade da operação em comunicado.
Contudo, a expansão dessa rastreabilidade exige, segundo Pianez, apoio aos produtores, afinal, “não há produção sustentável se ela não for economicamente viável para eles”. Ele defendeu que a rastreabilidade “precisa se tornar política pública obrigatória, vinculada a incentivos”, para que o Brasil consiga ganhar escala nesse novo padrão de exportação.
O marco acontece em um cenário de pressão crescente. Exportadores brasileiros temem que as investigações, em curso na China sobre o impacto das importações na indústria local, resultem na imposição de salvaguardas ou cotas, limitando os embarques para o país que, há dez anos, é o principal destino da carne bovina brasileira, somando US$ 7,9 bilhões de janeiro a outubro.


