Um novo e abrangente relatório, lançado poucas semanas antes da COP30, aponta que a Amazônia enfrenta um rápido crescimento de temperaturas extremas e de estresse hídrico.
O estudo, que fornece uma avaliação atualizada das mudanças climáticas na região ao longo de mais de quatro décadas, revela que 10% da bacia amazônica registra aumentos de temperatura de pelo menos 0,77 °C por década, o que resulta em um aquecimento acumulado de mais de 3,31 °C desde 1981.
Liderada por cientistas da Universidade de Lancaster e que envolveu uma equipe internacional de mais de 50 pesquisadores com apoio da WWF-UK, detalha que a média dos extremos climáticos tem se agravado nos últimos 43 anos.
Os autores destacam que essas mudanças extremas não são evidentes ao analisar apenas as temperaturas médias da região, que estão aumentando 0,21 °C por década — uma taxa que está em linha com o aquecimento médio global.
Baixo Amazonas
No Pará, os piores indicadores são voltados para a região do Baixo Amazonas, que contempla municípios do oeste do estado como Almeirim, Alenquer, Belterra, Santarém, entre outros. Em 2024, a região viveu a pior seca da história, deixando comunidades inteiras sem acesso à água e a alimentos, em função dos baixos índices do rio Tapajós.
Embora o ápice da seca, até o momento, tenha ocorrido no ano de 2024, tudo começou ainda em 2023, quando o fenômeno El Niño provocou redução recorde nos níveis do rio Tapajós, configurando estresse hídrico e situação de calamidade.
O professor Jos Barlow, da Universidade de Lancaster, principal autor do relatório, afirma que “é durante os períodos mais quentes e secos que os danos são maiores”, explica. A pesquisadora Dra. Nathália Carvalho, do Lancaster Environment Centre, informa ainda que “as regiões mais afetadas por esses extremos não são as mesmas que aquelas mais impactadas pelas mudanças médias”, afirma.
Na prática, isso significa que as mudanças não estão ocorrendo de forma uniforme, exigindo ainda mais agilidade no desenvolvimento de políticas eficazes de adaptação climática.
De acordo com a especialista em conservação do WWF-Brasil, Helga Correa, as secas consecutivas de 2023 e 2024 afetaram diretamente o modo de vida de comunidades tradicionais, mesmo em áreas onde a floresta está preservada.
“Manter a floresta em pé não tem sido suficiente para protegê-las dos extremos. Faltou água de qualidade, alimentos e até medicamentos naturais”, relata Correa.
Alerta para a COP30
O relatório reforça também que muitos dos extremos registrados não podem ser explicados apenas por fatores locais, como o desmatamento, pois as mudanças climáticas globais estão impactando até mesmo regiões bem preservadas da floresta.
“As emissões globais estão por trás desse cenário alarmante”, destaca o professor Barlow. “E isso exige ações urgentes em escala internacional.”
Já Joice Ferreira, da Embrapa, chama a atenção para as consequências sociais, especialmente na segurança alimentar:
“Produtos como o açaí, que garantem sustento a muitas famílias, estão ameaçados. Isso enfraquece a rede de proteção que a floresta oferece e pode prejudicar políticas públicas em andamento, como os planos de restauração florestal.”
Em sua conclusão, o relatório termina com um apelo para a tomada de ações urgentes de adaptação e mitigação, que incluem desde a redução do desmatamento até medidas complementares para lidar com incêndios florestais, a proteção de rios e o apoio para comunidades locais.
“A COP30 precisa ser um marco decisivo na luta global contra as mudanças climáticas. O crescimento explosivo dos extremos climáticos na Amazônia é um alerta que o mundo não pode ignorar”, diz o cientista-chefe da WWF-UK, Dr. Mike Barrett